Fui a Évora a convite do grupo AccorHotels (marca Ibis), numa acção para promover a cidade de Évora enquanto destino. O programa tinha uma parte organizada e outra livre. É sobre a parte organizada de que hoje falo.
Quem me conhece sabe que, de vinhos, percebo muito pouco. Em pequena, cheguei a ver de perto as vindimas, e pisei uvas num lagar. Sei que há vinho tinto, branco, verde e rosé. Também sei que há diferentes tipos de uva, e que as suas misturas dão vinhos diferentes.
No entanto, nunca bebo vinho às refeições (nem fora delas), e não consigo identificar quais as diferentes castas. Apenas consigo dizer se gosto ou não gosto de um vinho. E, verdade seja dita, tenho gostado de todos os vinhos que provei.
Apesar de não consumir com regularidade o néctar final, o processo de transformar uva em vinho é fascinante. Talvez por isso goste muito de visitar adegas. A ciência por detrás da criação de um bom vinho intriga-me.
Foi a tentativa de desvendar um pouco desse mistério que me levou a visitar as Caves Sandeman, quando estive no Porto, e que me deixou entusiasmada para conhecer a Adega da Cartuxa – Quinta de Valbom, da qual hoje falo.



A ligação da Adega da Cartuxa aos Monges Cartuxos
Sérgio Franco recebeu-nos com um sorriso no rosto e uma enorme vontade de partilhar o seu conhecimento. Trabalha há vários anos na Adega da Cartuxa, a fazer visitas guiadas pela Quinta de Valbom.
Sérgio explicou-nos que a Adega pertence, hoje, à Fundação Eugénio de Almeida. No entanto, nem sempre assim foi. Na verdade, a zona onde a actual adega se encontra fazia parte dos terrenos do Mosteiro da Cartuxa.
Formalmente Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, foi construído entre 1587 e 1598. Terá sido o primeiro da Ordem dos Cartuxos a ser construído em Portugal. Os monges acabaram por ser expulsos 1834, aquando da extinção das ordens religiosas em Portugal.
O mosteiro passou, então, a pertencer ao Estado, e serviu de escola agrícola. No final do século XIX, foi adquirido e restaurado pela família Eugénio de Almeida. Em 1960, a família reinstalou os Monges Cartuxos no seu antigo mosteiro.
No momento da nossa visita à adega, apenas 4 monges ainda habitavam o espaço. Por serem tão poucos, e tendo já uma idade avançada, a ordem decidiu realojar os monges em Espanha.
Diz-se que o mosteiro vai ser ocupado por uma congregação feminina, composta por mais de 1000 monjas. A adega, essa, irá continuar a fazer companhia ao mosteiro.


Os vinhos e o mítico Pêra-Manca
Quando Sérgio nos perguntou que vinhos da Cartuxa conhecíamos, eu só me lembrava do EA. Não por já ter bebido, mas por me terem falado nele quando referi que ia visitar a adega.
Os meus companheiros sabiam-nos todos: temos o EA, Vinea, Foral de Évora, Scala Coeli, Cartuxa, assim como o mítico Pêra-Manca, do qual, até àquela altura, nunca tinha ouvido falar.
Sérgio contou-nos a história associada ao curioso nome do vinho, cuja produção normal não ultrapassa as 30 mil garrafas. Os frades do Convento de Espinheiro eram proprietários de vinhedos situados num lugar com muita pedras que “mancavam”.
Essas pedras oscilantes eram conhecidas como “pedras mancas”. Daí, “pêra manca”. Os vinhos dos frades seriam muito famosos na época, a ponto de Pedro Álvares Cabral ter levado algumas pipas na expedição ao Brasil. Na Adega da Cartuxa, o Pêra Manca é muito recente, produzindo-se desde 1990.
Não há Pêra Manca todos os anos. Na verdade, a produção de todo o vinho da Adega da Cartuxa depende das castas, assim como da qualidade das uvas no ano em questão. Uvas de maior qualidade irão para vinhos de uma gama superior.
As barricas de carvalho, pelas quais passamos, albergam o vinho. Ali, ganhará novos aromas, aprimorando a sua qualidade. De forma discreta, também observámos talhas de barro alentejano. Em tempos uma tradição no Alentejo, o vinho de talha está lentamente a voltar.




As castas como perfume
Num corredor que serve apenas para passagem, a Adega da Cartuxa aproveitou o espaço para oferecer uma experiência diferente aos seus visitantes.
Para as castas Aragonês, Roupeiro, Trincadeira, Antão Vaz e Castelão, foram reproduzidos os seus aromas. Podemos cheirá-los (sim, cheirar), como se de um perfume se tratasse.
Os aromas a flores, frutos silvestres e pimenta (esta última particularmente presente) da casta Aragonês contrastam com os aromas de frutos tropicais das Roupeiro e Antão Vaz. Na casta Trincadeira, foi notável as referências a especiarias, em particular a canela, e a Castelão remete-nos inquestionavelmente para groselha.
Esta é uma experiência sensorial muito bem conseguida, que atrai particularmente quem não seja muito conhecedor de vinho. Quando saí deste corredor, fiquei com a sensação de compreender um pouco mais deste mundo tão complexo.



A prova de vinhos
Terminada a visita, era hora de degustar! A prova começou pelo azeite. Dois azeites diferentes, um de entrada de gama e outro de gama mais elevada, com um saboroso pão alentejano para acompanhar. Tínhamos também presunto alentejano e pequenas tostas.
Depois, foi a vez do vinho. Começámos pelo vinho branco Cartuxa. De seguida, veio o vinho tinto Cartuxa. A prova terminou com um tinto Cartuxa Reserva. Eu, mesmo não percebendo de vinhos, consegui notar a diferença. Garanto que, do Reserva, não sobrou nem uma gota no copo.



Guia prático
Como chegar
Eu fui a pé desde o centro da cidade até à Adega da Cartuxa. O percurso faz-se muito bem, e há vários monumentos interessantes pelo caminho. Passei pela Cerca Medieval de Évora, pelo Aqueduto da Água de Prata, e pela Porta de Aviz. No entanto, ainda são perto de 2 quilómetros a andar, e sei que não é para todos.
A forma mais fácil de se chegar à Adega da Cartuxa é de carro. Há parque de estacionamento gratuito no interior.
Informação útil
★ Site: Cartuxa
★ Horário: Todos os dias das 10h00 às 19h00 | requer marcação
★ Preço: os preços são diferentes, conforme o número de provas, por isso vê os preços detalhados
★ Morada: Quinta de Valbom, Estrada da Soeira 7005-003 Évora
Horários e preços à data de publicação deste artigo.
Alojamento
Como referi no início do artigo, a minha ida a Évora esteve enquadrada numa acção por parte do grupo AccorHotels (marca Ibis). A oferta do alojamento fazia parte desta iniciativa, e fiquei alojada no ibis Évora. O hotel está bem localizado, muito próximo do Passeio Público. Tem tudo o que se pode encontrar noutros hotéis da mesma rede. Há estacionamento livre no local, mas se não houver lugares há um parque subterrâneo pago. O pequeno-almoço pode ou não ser incluído.
Apesar de Évora não ser uma cidade grande, há mais alternativas de alojamento, por isso é só questão de procurar. De certeza que vais encontrar um espaço que seja do teu agrado!
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