Para visitar o interior da Mongólia, decidimos recorrer a uma agência. Como quase todas as opções de alojamento em Ulaanbaatar, o Danista Nomads Tour Hostel (onde ficámos alojados) tem uma vasta gama de visitas organizadas pela Mongólia. Tendo em conta o tempo que tínhamos disponível, escolhemos o circuito 4 days full of adventure. Dividi o relato destes dias maravilhosos em vários artigos:
- Pelo interior da Mongólia: dia 1 no país dos nómadas
- Pelo interior da Mongólia: dia 2 no país dos nómadas
- Pelo interior da Mongólia: dia 3 no país dos nómadas
- Pelo interior da Mongólia: dia 4 no país dos nómadas
- Sobre as agências e visitas organizadas na Mongólia (este artigo)
Vamos saber mais sobre as visitas organizadas na Mongólia?
Porquê uma agência: as “estradas” mongóis
A Mongólia tem apenas uma estrada que atravessa o país, havendo algumas ramificações. No entanto, mesmo essa estrada está mal conservada. De resto, não havia uma única estrada para a maior parte dos sítios que queríamos conhecer. Ainda podia dizer que há caminhos de terra batida, mas a verdade é que por vezes nem isso existe. O terreno é bastante acidentado, cheio de altos e baixos, buracos grandes e pequenos, com diversas pedras e pedregulhos. Naturalmente, também não existem placas de sinalização rodoviária nem iluminação.
Não considero que seja impossível andar pelo país de forma independente, mas pode ser perigoso. Em particular devido ao terreno, mas também porque se acontecer alguma coisa, pode não haver ninguém nas proximidades. A Mongólia é o país independente com menor densidade populacional do mundo… O que significa que andamos quilómetros quase sem ver ninguém. Se é verdade que tem as suas vantagens, é incrivelmente desvantajoso quando se tem algum problema na estrada. E claro, a probabilidade de nos perdermos é enorme, porque nada está sinalizado, e de noite apenas existe a luz do veículo onde vamos.
Não estou a exagerar. Aconteceu logo no primeiro dia termos tido dois furos, houve um pequeno episódio de aquaplanagem e, mesmo com um motorista extremamente experiente, perdemo-nos nas margens do lago Ögii. Tudo acabou por correr bem, mas a experiência e o conhecimento do condutor foram determinantes.
Normalmente evito visitas organizadas, não é o meu estilo de viagem, mas na Mongólia recomendo vivamente. É mesmo a forma mais segura de se conhecer o país.
A escolha da agência
A maior parte dos alojamentos em Ulaanbaatar funciona também como agência, oferecendo uma panóplia de visitas organizadas. Na sua maioria, os roteiros já estão definidos, e não é possível fazer ajustes. Existem outras agências que permitem que se monte o próprio roteiro de acordo com o que se quer ver. E depois há aquelas que oferecem um roteiro mas que pode ser personalizado.
Se nenhum dos roteiros nos interessasse, muito provavelmente tínhamos tentado criar o nosso próprio itinerário. Mas o 4 days full of adventure da Danista Nomads Tour pareceu-nos interessante, pelo que resolvemos arriscar. Houve algumas alterações ao roteiro, como os locais onde andámos de cavalo e de camelo, e incluímos uma visita ao Palácio de Inverno de Bogd Khan (que não estava no itinerário original).
Ao se escolher a agência, é importante ter em atenção:
- O tipo de roteiros que oferece e se existe a possibilidade de personalizar ou criar um itinerário próprio;
- A duração das visitas, em dias;
- A existência de um motorista que conheça a região a ser visitada;
- Um guia que fale inglês (é, português não vai haver);
- O tipo de veículo onde se vai fazer a visita;
- Se o alojamento e alimentação estão incluídos no preço;
- Se a roupa de cama (saco-cama) estão incluídos no preço;
- Se a entrada em monumentos e templo está incluída no preço.
Tudo isto pode variar de agência para agência, e são factores importantes para se fazer uma comparação justa. Há, no entanto, duas coisas que considero indispensáveis: o motorista e o guia.
Duração das visitas organizadas
A maior parte das agências oferece visitas com durações que variam de 1 dia até 1 mês. As distâncias ainda são consideráveis, e de norte a sul do país pode-se demorar 4 dias. Para se ver alguma coisa pelo caminho, as visitas têm de demorar mais tempo. É importante ter isto em mente quando se planeia o número de dias e os locais que se quer conhecer.
Com 1 dia é possível ver alguns pontos de interesse perto da capital. Para tudo o resto, 3 dias será o mínimo indispensável. Para se conhecer o sul da Mongólia, o ideal será pelo menos 1 semana.
Tipos de transporte
Existem alguns tipos de veículos disponíveis, que vão depender maioritariamente da duração da visita, da distância percorrida e do número de pessoas.
Para visitas de 1 dia, onde se exploram localizações próximas a Ulaanbaatar, o mais comum é que o veículo seja um automóvel. Para visitas mais longas, e que exijam que se saia da tal estrada principal que corta o país, tanto pode ser um jipe como uma carrinha russa. Aí, depende maioritariamente do número de pessoas que vão fazer a visita. Em alguns casos, é possível que a viagem seja feita de jipe ou carrinha numa das direcções, e depois de avião para o regresso a Ulaanbaatar.
Nós éramos 6, por isso o jipe não era suficiente. O nosso veículo foi uma carrinha russa UAZ, já com alguns anos. A bagageira é bastante espaçosa, dando para acomodar as malas de toda a gente, mais a comida para 4 dias e água, muita muita água. Havia ainda espaço para sacos-cama e pratos, talheres e copos.
Os assentos não são muito confortáveis, não há cintos de segurança, mas serve o seu propósito: levar-nos de um lado para o outro. Os bancos são frente a frente, o que significa que 3 pessoas terão de ir de costas. Para quem enjoa facilmente, é melhor ficar nos bancos que vão virados para a estrada. E mesmo assim não garanto que não haja enjoos, a carrinha abana bastante ao andar pelos caminhos mongóis.
Os preços e o que está incluído
O preço vai depender de agência para agência e do número de pessoas que vão na visita. Na Danista Nomads Tours, o preço para 6 pessoas foi de US$ 50 por pessoa por dia (ou seja, US$ 200 por pessoa no total para os 4 dias).
Nesse preço estava tudo – absolutamente tudo – incluído. Tínhamos uma guia que falava inglês, um motorista local, a carrinha e o combustível, entrada nos templos (com guia do templo), 3 refeições por dia (pequeno-almoço, almoço e jantar), água sempre que quiséssemos, alojamento em gers tradicionais e contacto com famílias nómadas, sacos-cama e papel higiénico.
Para se ter uma ideia de como o número de pessoas influencia o preço, ainda pensávamos fazer a visita apenas os 2 (eu e o meu companheiro de viagem), mas ficava a US$ 100 por dia por pessoa. Quanto mais pessoas forem, até um máximo de 6, mais barato fica. Talvez haja agências com preços mais em conta, mas é importante ver o que está incluído nesse preço. No nosso caso, não tivemos de pagar absolutamente mais nada.
Como são as refeições
As refeições foram preparadas pela nossa guia. Houve dois almoços em que comemos em restaurantes ou tascas, mas não pagámos (também estava incluído no preço). Tudo estava saboroso e em quantidade suficiente, até para apetites mais vorazes.
É importante ter em conta que a gastronomia mongol tem muita gordura, o que pode ser estranho para os nossos paladares. Num Khuushuur (xуушуур), um pastel de massa frita, acho que há mais gordura do que carne. A bebida tradicional é um chá chamado suutei tsai (сүүтэй цай), que inclui água, chá verde, leite e sal. O leite não é tipicamente de vaca, mas sim de outros animais como iaques, camelos, cavalos, cabras e ovelhas.
Como no nosso grupo ninguém tinha restrições alimentares, não sei muito bem como são as alternativas. Acredito que se consiga ter opções para ovo-lacto-vegetarianos, mas para veganos ou vegetarianos estritos será mais complicado. Nos restaurantes as opções são praticamente inexistentes. E claro, mesmo que haja algo que pareça que não tem nada de origem animal, nunca se sabe como foi feito o molho. De qualquer das formas, é questão de se falar com a agência e expor as restrições alimentares. O mesmo é válido para celíacos ou alérgicos a algum alimento.
Alojamento e famílias nómadas
O comum neste tipo de visitas é passar a noite em gers tradicionais. Gers são tendas circulares, com uma estrutura em madeira e cobertas por feltro ou lã. Pertencem a famílias nómadas que, como o nome indica, vão mudando de localização de tempos a tempos. Apenas algumas famílias recebem turistas, mas as que o fazem têm um ger específico só para os visitantes.
As famílias são, geralmente, muito gentis e receptivas, embora haja sempre a barreira linguística. Não falam inglês, altura em que ter um guia que domine o idioma é bastante útil. Muitas famílias criam cavalos, camelos e gado. Infelizmente, as crianças não costumam ir à escola.
Os gers onde ficámos tinham iluminação e aquecimento, através de uma lareira. O aquecimento é fundamental, porque as noites mongóis são incrivelmente frias, mesmo no verão. A diferença de temperatura é tanta que aconselho a levar roupa de verão para durante o dia e roupa de inverno para a noite. Chegámos a ter 5 graus celsius durante a noite e 35 durante o dia…
Dentro dos gers apenas existem camas e alguns bancos. Os sacos-camas estavam incluídos, mas não posso garantir que sejam lavados após cada utilização.
Casas-de-banho e higiene
As casas-de-banho como as conhecemos são inexistentes. No máximo, o que há é um buraco no chão, com tábuas por cima e dos lados. É preciso algum equilíbrio, até porque algumas das tábuas que estão no chão são bastante afastadas.
Também não existem chuveiros nem nada que se pareça. A nossa higiene foi feita à base de toalhitas húmidas, mas em visitas mais longas é comum as pessoas utilizem os rios para uma lavagem geral. E sim, a água é fria.
Sentes falta de alguma informação?
Alguma dúvida sobre algo que não abordei?
Deixa nos comentários!
É impressionante, não precisamos de viajar muito para estarmos num sítios onde o que é garantido no nosso dia-a-dia, nem existe!
É mesmo! E embora haja coisas que sejam essenciais (apesar de que o que é essencial depender de pessoa para pessoa), este tipo de experiência também nos ajuda a perceber que há outras coisas que, na verdade, não precisamos.
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