Há muitos anos que a Cidade Proibida (紫禁城, Zǐ Jìn Chéng) povoava o meu imaginário. Considerado Património da Humanidade pela UNESCO em 1987, parecia-me um lugar fascinante! No fundo, era uma pequena cidade dentro de outra cidade. Aqui, durante quase meio milénio, apenas entrou o imperador, a sua família, e alguns trabalhadores. Foi assim que nasceu o nome Cidade Proibida.
Qualquer pessoa que tivesse a audácia de entrar sem autorização, seria julgada. Por vezes, o julgamento era fatal. E agora, ali estava eu, prestes a entrar num local que outrora fora tão reservado. Eu, e mais meio mundo. Era como se a China inteira tivesse decidido ir conhecer a sua capital.
O que a princípio me parecia uma fila, rapidamente se transformou num aglomerado de pessoas. A ordem que existia era mínima, e tenho a certeza que fomos ultrapassados algumas vezes. Andando devagarinho, conseguimos chegar aos detectores de metais. Afinal, a fila era apenas para entrar no recinto. Lá dentro, já com mais espaço, encontrava-se a bilheteira.
Para além dos magníficos edifícios que nela se encontram, irei sempre lembrar a Cidade Proibida como palco de dois episódios caricatos.
Decidimos começar a visita subindo a uma das muralhas, de onde se teria uma vista abrangente para a Praça da Paz Celestial (天安門廣場, Tiān’ānmén Guǎngchǎng). Antes de subir, era necessário passar por novos detectores de metais e mostrar o que tínhamos dentro das pequenas mochilas.
O segurança, ao ver um caderno, pegou imediatamente nele e começou a folhear. Desde o início. Passando por cada uma das folhas. Estava tão empenhado em ver o que existia no caderno que até me admirou quando o devolveu sem chamar um tradutor. Porque duvido que soubesse ler português… Mas lá fomos aprovados e pudemos passar.
A vista do topo é realmente magnífica. A praça preenche-nos completamente o olhar, não deixando espaço para mais nada. Estava concentrada a absorver o que via quando senti uma pessoa a aproximar-se, uma mão a agarrar-me firmemente o pulso e a puxar-me com força. O que estava a acontecer?
Afinal, era só uma senhora chinesa que queria tirar uma fotografia comigo. Situações similares aconteceram durante toda a minha estadia na China. O mesmo já tinha acontecido tanto na Mongólia como na Índia, por isso não estranhei. Ali, eu é que era o diferente, o estranho, o exótico.
O resto da nossa visita decorreu tranquilamente. Na tranquilidade que um espaço cheio de pessoas pode ter. Em todo o lado, tínhamos de fazer um esforço para conseguir ver o que quer que fosse. Não foi nada fácil.
Grupos de chineses empunhavam os seus selfie sticks, telemóveis, e máquinas fotográficas, bloqueando para sempre a visão dos menos perseverantes. Mas este não era o nosso primeiro dia na capital chinesa. Sabíamos o que tínhamos de fazer: não arredar pé. Assim que houvesse uma abertura, atacávamos.
Para mim, visitar os edifícios desta forma foi extremamente cansativo. Tão cansativo que a dada altura já nem me apetecia tentar. Aqui, há 980 edifícios, com quase 9000 secções e salas para ver. Mesmo numa altura em que estivéssemos sozinhos, não daria para ver tudo num dia. A nossa estratégia foi visitar o corredor central e alguns edifícios dos corredores laterais.
A Cidade Proibida foi de encontro ao que eu tinha no meu imaginário? Em muito aspectos, sim. Este é um lugar que transpira história em cada um dos seus 720 mil metros quadrados. Não posso negar que me emociona estar num espaço assim.
Passou por duas dinastias (Ming, 明朝 e Qing, 清朝), foi expandida, sofreu com a Segunda Guerra Sino-Japonesa, e teve uma recuperação extraordinária. A Cidade Proibida tem muito para contar. Mas é bom termos em mente que, hoje, de proibida não tem nada.
Guia prático
Como chegar (e sair)
A entrada para a Cidade Proibida faz-se apenas pela entrada a sul, no portão Wǔmén, 午門 (nas indicações em inglês aparece Meridian Gate). A saída, no entanto, é feita a norte, pelo portão Shénwǔmén, 神武門 (nas indicações em inglês aparece Gate of Divine Might ou Gate of Divine Prowess).
Também é possível sair pelo lado este, mais ou menos a meio do percurso, mas aconselho apenas para quem não tem muito tempo. Para se conhecer mais da Cidade Proibida, o melhor é sair pelo norte.
Para a chegada, há várias opções:
- Metro linha 1, vermelha; estação Tiān’ānmén Xī (天安门西), saída A (é a mais próxima e foi a que eu utilizei).
- Metro linha 1, vermelha; estação Tiān’ānmén Dōng (天安门东), saída B.
- Metro linha 2, azul; estação Qiánmén (前门), saída A.
- Autocarros 1, 2, 53, saída Tiān’ānmén Xī ou Tiān’ānmén Dōng.
- Autocarros 59, 82, 120, saída Tiān’ānmén Xī.
Para a partida, apenas há autocarros. Nós resolvemos sair pela saída mais a norte e ir até ao parque Jǐngshān (景山), que fica mesmo em frente. O resto do percurso até ao metro fizemos a pé. Mas os autocarros 58, 101, 103, 109, 124 e 128 passam por estações de metro.
Informação útil
★ Site: The Palace Museum
★ Horário: De 3ª-feira a domingo, das 8h30 às 17h00
★ Preço: 60¥ (de 1 de Abril a 31 de Outubro); 40¥ (de 1 de Novembro a 31 de Março) || preços detalhados
Existe um limite de 80000 pessoas dentro do recinto, e desde 2018, aconselha-se que os bilhetes sejam comprados online com antecedência, uma vez que as entradas esgotam rapidamente. A página está toda em mandarim, mas consegue-se fazer a compra utilizando a tradução. O problema é que o pagamento só pode ser feito utilizando um cartão de um banco local ou através do Alipay (o equivalente chinês ao Paypal).
Não tendo nenhum dos dois, a única opção é comprar o bilhete no local, por isso vai cedo. Em 2016, eu utilizei uma bilheteira normal, mas agora aconselham a que os estrangeiros se dirijam a outro local. Na entrada, do lado esquerdo, encontrarás a Comprehensive Service Window (综合服务窗口), onde te irão ajudar na compra dos bilhetes.
★ Morada: Jǐngshān Qián Jiē 4, Dōngchéng Qū, Běijīng
Nota: para uma conversão actualizada de yuan para euros, vê o site xe.com.
Horários e preços à data de publicação deste artigo.
Alojamento
Quando estive em Pequim, fiquei alojada no Peking Station Hostel. Gostei imenso do espaço, e voltaria a ficar aqui. O hostel fica perto da estação de metro Dōngdān (东单, linha 1, vermelha; e linha 5, roxa), o que é uma mais-valia. O metro é das formas mais fáceis de nos deslocarmos em Pequim. Mas numa cidade tão grande como é a capital chinesa, o que não faltam são opções de alojamento. É só questão de procurar, de certeza que vais encontrar algo que te agrade.
Antes de mais, Obrigado. Disponibilizou-me fotografias admiráveis de um sitio que , possivelmente, nunca visitarei na minha vida. As fotografias são lindas. Testemunham realidades historicas que, hoje, serão inconcebiveis, embora a China continue a ser um país de Imperadores, de Deuses. Não é um país de cidadãos, e é por isso que os chineses demonstram, no lugar em que estejam, uma falta de educação aterradora. Nunca fui à China nem irei, por questão de prinicipio, mas já estive em locais turisticos, na Europa, em que se encontravam “enchames de chineses”, sem a relutância de emitirem comportamentos arrogantes, sem nenhuma educação. Para lá da beleza das imagens que tive oportunidade de ver sobre a China, considero, de acordo com a experiência que tenho com chineses, que estes deviam aprender a serem educados.
Obrigada, eu! Fico muito contente que as fotografias tenham agradado 🙂
Acredito que este tipo de comportamento que descrevi é muito cultural, e para o povo chinês é bastante normal ser-se assim. Não consideram que estão a fazer algo de errado, é culturalmente aceite que sejam assim. Não digo que é certo ou errado, é apenas diferente do que estamos habituados por aqui. Se preferia que não me empurrassem? Sem dúvida 😉 Mas quando vamos para outro país, temos de nos adaptar, não é? Ali, nós é que somos diferentes de tudo o resto 🙂 Claro que, ao visitarem outros países, muito chineses não se adaptam (como esses casos que eu também já vi pela Europa), mas não há grande coisa que consigamos fazer.
A cidade proíbida é um daqueles lugares que sonho um dia vir a conhecer, deve ser algo extraordinário toda aquela simetria e simbolismo… fantástica
É realmente fantástica! Espero que tenhas oportunidade de a ver de perto, é impressionante 🙂