Descobri o Caminito del Rey completamente por acaso. Já tinha feito os Passadiços do Paiva, em Portugal, quando soube que o país vizinho tinha recuperado um conjunto de passadiços junto a um desfiladeiro.
Rapidamente percebi que seria um percurso diferente, com um preço mais elevado, e uma afluência que exigia a marcação, por horas, com praticamente 4 meses de antecedência.
No entanto, eu não resisto a uma boa caminhada. Partimos de Lisboa, com destino a El Chorro, numa viagem de carro que duraria perto de 6 horas. Era sexta-feira, e no domingo já iríamos regressar novamente. Tudo para percorrer o Caminito del Rey.



Mas quando é que surgiu o Caminito del Rey?
Aquando da construção das barragens no desfiladeiro de Gaitanes, os trabalhadores criaram um conjunto de passadiços. Serviam de acesso às barragens e para facilitar o transporte de materiais.
O rei Alfonso XIII terá percorrido esses passadiços em 1921, para inaugurar a barragem de Guadalhorce. E assim nasceu o nome de Caminito del Rey.
Ao longo dos anos, o caminito foi deixando de ser utilizado e ficou ao abandono. As intempéries foram destruído as estruturas existentes, tornando-o num percurso seriamente perigoso. O ferro apodreceu, e algumas plataformas de cimento caíram.
Nos anos 1990, alguns caminhantes audaciosos percorriam o que restava do caminito, mas dois acidentes fatais levaram ao encerramento do local. Facilmente se encontram várias imagens dessa altura, quando os mais aventureiros o percorriam.
O Caminito del Rey foi reaberto ao público em 2015, quase 15 anos após o seu encerramento. Encontra-se, desde então, totalmente remodelado e seguro. Foi assim que o conheci.



O início da minha jornada, que se adivinhava concorrida
Contra todas as recomendações, fomos durante o fim-de-semana. Era apenas quando podíamos. Tudo indicava que o percurso estaria cheio de gente, e seria difícil ter o desfiladeiro só para nós. Para piorar, a única hora disponível era às 14h00. Teria preferido de manhã bem cedo, mas já estava tudo reservado. Tinha de me adaptar às circunstâncias, se queria percorrer o caminito.
Junto à estação de comboios de El Chorro, o autocarro levava pessoas cansadas, com a cara vermelha e o suor a escorrer. Tinham terminado de percorrer o caminho, e regressavam ao local onde tinham deixados os carros. Nós, no entanto, estávamos frescos e com toda a energia.
Fizemos o percurso de cerca de 1,5 quilómetros até ao controlo de entrada com bastante calma. Fomos com tempo, para apreciarmos a paisagem e tirar fotografias. É aconselhável chegar ao controlo de bilhete com cerca de meia hora de antecedência, mas chegámos mais de uma hora antes do tempo.



Mas eis que a nossa salvação chegou! A pessoa responsável pelas entradas foi falar com um grupo que tinha bilhete para meia hora depois de nós, e disse-lhes que podiam entrar. Resolvemos arriscar e fomos até lá.
Assim, sem problemas nem objecções, entrámos também. Havia muito menos gente naquele grupo do que nos que tínhamos visto entrar anteriormente. Isto queria dizer que, com o ritmo certo, iríamos conseguir ter o Caminito del Rey quase só para nós. E foi mesmo isso que aconteceu.



Quase sós no Caminito del Rey
De capacete na cabeça e mochila nas costas, estávamos prontos. Deixando várias pessoas para trás e umas quantas para a frente, fizemos o percurso quase todo sem ninguém nas imediações.
Pudemos apreciar a paisagem, as rochas, os desfiladeiros. Que lugar maravilhoso! Sempre tive um grande fascínio pelas montanhas. Não sei bem explicar de onde vem, mas existe. E ali, à minha frente, estavam uma das mais bonitas que já tinha visto.



É realmente extraordinária a forma de uma rocha. Como se vai moldando devido à força do vento e uma água persistente. As rochas parecem inflexíveis, rígidas, duras… Mas na verdade são altamente adaptáveis, se lhes dermos tempo suficiente. Talvez seja isso que goste nas montanhas. A sua capacidade de resistir a tudo, ao mesmo tempo que se adapta e molda às circunstâncias.
De vez em quando, por entre as ripas de madeira, conseguíamos ver o caminito original. Passámos por zonas de terra batida, passadiços, e até uma pequena zona em vidro. Subimos e descemos escadas e passámos por uma ponte suspensa que nos pode deixar com um friozinho na barriga.



O Caminito del Rey é um percurso obrigatório para os amantes da natureza e para quem não resiste a uma boa caminhada. Não é um percurso difícil, até porque é maioritariamente plano, e as paisagens deixam qualquer um encantado.
Restáva-nos deixar o capacete e regressar a pé até ao hotel, para um merecido banho. A missão estava cumprida, tínhamos terminado uma das caminhadas mais bonitas que fiz até agora.
Guia prático
Como chegar
A forma mais prática de se chegar ao Caminito del Rey é, sem dúvida, de carro. É possível estacionar em El Chorro, junto ao final do trilho; ou na Entrada Norte, junto ao início do percurso. Como o caminito não é circular, é sempre necessário apanhar o autocarro. Eles fazem a viagem nas duas direcções. De forma mais simples, estas são as duas opções:
- Deixar o carro em El Chorro (final do percurso), e apanhar o autocarro até ao início do percurso. Quando se termina de fazer o caminito, o carro está logo ali.
- Deixar o carro junto à Entrada Norte, fazer o caminito, e apanhar o autocarro, para regressar ao carro.
Eu escolhi a primeira opção, até porque o alojamento onde fiquei era bem perto do final do caminho. Na verdade, nem precisei de mover o carro. Foi sair do hotel, entrar no autocarro, fazer o percurso, e entrar no hotel novamente. Se escolheres a primeira opção, vai com tempo. Há autocarros a cada meia hora, entre das 9h00 e as 19h30. A viagem demora cerca de 25 minutos.
Existe o plano de aumentar o Caminito del Rey, tornado-o num percurso circular. Até lá, estas informações são válidas.
Dicas
★ Compra os bilhetes com o máximo de antecedência possível. As entradas esgotam rapidamente, por vezes com 4 ou 5 meses de antecedência.
★ Podes comprar apenas a entrada (10€) ou a entrada com o bilhete do autocarro (11,55€). Eu aconselho a segunda porque, a não ser que tenhas dois carros, irás sempre precisar (no início ou no fim).
★ Vai com tempo. São precisos cerca de 30 minutos de caminhada até ao local de controlo de bilhetes. Se partires de El Chorro, conta com pelo menos 1h30 antes do que está marcado no bilhete: até 30 minutos de espera pelo autocarro, 25 minutos de viagem, 30 minutos a caminhar até à entrada.
★ Leva roupa e calçado confortáveis, de preferência de caminhada.
★ Não te esqueças de levar água e comida. Naturalmente, não há caixotes do lixo por ali. Acho que não preciso de dizer, mas se a embalagem foi contigo, também volta contigo, não é?
★ Crianças até aos 8 anos não podem percorrer o trilho.
★ Não são permitidos bastões de caminhada.
Informação útil
★ Dificuldade: Média (por causa da distância)
★ Tipo de percurso: Linear
★ Extensão: 8 quilómetros
★ Tempo médio: 3h00/3h30
★ Percurso sinalizado
Alojamento
Fiquei alojada no Complejo Turístico La Garganta, mesmo ao lado da estação de comboios de El Chorro. O alojamento é perfeito para quem quer fazer o Caminito del Rey. A principal razão é a localização, a dois passos da paragem de autocarros que nos leva até ao início do percurso. Para além disso, tem uma vista maravilhosa para as montanhas. No entanto, não é um espaço barato.
Alojamento perto do Caminito del Rey
Este é um percurso que tenho na lista de “a fazer” – ainda me lembro de ter ficado encantada quando começaram a aparecer as primeiras imagens do caminho original como sendo um dos mais perigosos do mundo, mas nunca seria louca o suficiente para o fazer naquele estado ahaha :p mas agora, sim, quero muito fazê-lo!
Jiji
Sim, acho que era preciso um grande nível de loucura para o fazer no estado em que se encontrava 😛 Mas agora é completamente seguro, e acho que vais adorar! A paisagem à volta é impressionante 🙂