Basílica de São Pedro Vaticano Mundo Indefinido

Uma visita quase secreta às catacumbas da Basílica de São Pedro, no Vaticano

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Um soldado da Guarda Suíça encontrava-se à nossa frente. Ao lado, uma placa informava: vietato l’accesso. Acesso interdito. Era sinal de que estávamos no sítio certo. Envergando um traje preto com uma faixa vermelha, o soldado examinou o papel que lhe tínhamos entregue. Depois de uma leitura rápida, deixou-nos passar.

Momentos antes, o grande número de pessoas que preenchia a Piazza San Pietro tinha-me impressionado. Queriam entrar na Basílica de São Pedro mas, mesmo em época baixa, teriam de esperar horas para o fazer. A fila era verdadeiramente desmotivante.

Doze afortunados, nos quais eu me incluía, iriam passar à frente de todas essas pessoas. Como se isso não fosse suficiente, ainda visitaríamos uma parte do Vaticano que pouca gente sabe que existe: a necrópole. Sorte? Não. Planeamento, pesquisa, e alguma flexibilidade. Mas já lá vamos.

Após passarmos pela Guarda Suíça, andámos um pouco e entrámos no pequeno Ufficio Scavi (Escritório das Escavações). Confirmaram a nossa identidade, com auxílio do cartão de cidadão, e deram-nos os bilhetes. Estava tudo certo. Apenas teríamos de aguardar um pouco pela guia, que iria aparecer na hora marcada.

Mais pessoas iam chegando, e assim o pequeno grupo foi-se compondo. No total, éramos dez portugueses e dois brasileiros. Às 14h30, a guia chegou. Brasileira, a viver em Roma já há alguns anos, ia-nos levar pelas catacumbas da Basílica de São Pedro.

Uma incrível viagem pela História

Valendo-se de impressões em folhas A4, a nossa guia explicou que o lugar onde nos encontrávamos fora, em tempo, um Circo Romano, que terá começado com o imperador Caligula. Não um Circo como os que conhecemos hoje, mas daqueles com animais selvagens, gladiadores, e lutas até à morte para puro entretenimento da população.

“Então vendo aquilo ali, no chão?”, perguntou-nos a guia, apontando para um quadrado branco, em frente ao Ufficio Scavi. Naquele espaço era onde se encontrava o obelisco que hoje vemos no centro da Piazza San Pietro.

O obelisco estava bem no centro do Circo Romano, e por ali terá ficado até ao governo do imperador Nero. Curiosamente, aquela não foi a sua primeira morada. Na verdade, o obelisco é mais antigo do que Roma e terá sido retirado do Egipto por Caligula!

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Quando, segundo algumas fontes, Nero pegou fogo a Roma, a culpa recaiu sobre os cristãos. Muitos foram crucificados e queimados vivos. A versão católica da história afirma que São Pedro estaria por Roma durante a perseguição aos cristãos.

Pedro terá sido morto ali, naquela altura. Diz-se que os seus restos mortais foram enterrados, junto com os corpos dos inúmeros cristãos executados. Com a passagem dos espectáculos para uma arena mais digna da grandiosidade da cidade – o Coliseu de Roma, ou Anfiteatro Flaviano – o local transformou-se, aos poucos, num cemitério.

Com toda esta informação, estávamos prontos para entrar.

A necrópole do Vaticano, em baixo da Basílica de São Pedro

“Pessoas de várias religiões foram aqui sepultadas, não apenas cristãos”, informou-nos a guia. Esta simples frase ajudou a explicar as figuras e deuses mitológicos que adornavam alguns dos túmulos. Inscrições em latim, quando visíveis, contavam um pouco da vida das pessoas que ali descansavam.

Alguns jazigos eram ricamente decorados com frescos ou relevos, tendo pavimentos em mosaico. Os mais sumptuosos tinham uma escada que conduzia a uma espécie de terraço, onde se celebrava o defunto. Não era um lugar triste, mas sim de festejo, de homenagem à vida. Vida que já não é, mas que foi.

Caminhando por corredores apertados, onde vimos pouco mais de 20 sepulturas e jazigos. Sim, estávamos no subsolo da Basílica de São Pedro, mas antes era rua. Olhando para cima, veríamos o céu. Agora, em algumas zonas, podemos ver os pés das pessoas que circulam pelo interior da Basílica.

De todas as sepulturas que vimos, uma delas teve um destaque especial. Quando chegámos ao local, uma pequena luz iluminava um buraco na parede. Segundo a versão oficial da Igreja Católica, aquele teria sido o túmulo de São Pedro, o primeiro Papa. No entanto, há quem não concorde.

Será que São Pedro esteve mesmo em Roma?

Mesmo dentro da Igreja Católica, muitos afirmam que São Pedro nunca esteve em Roma, apenas São Paulo. Isto tem grandes implicações: se São Pedro nunca esteve em Roma, não foi lá enterrado e, assim, aquele não seria o seu túmulo.

A nossa guia não se compromete, mas diz-nos que talvez tenha sido mesmo ali que o apóstolo foi sepultado. A história é complexa, e os factos acabam por se confundir com suposições. Há, no entanto, algumas certezas.

Quando o Circo Romano passou a cemitério, também se transformou em ponto de peregrinação. Cristãos, acreditando que São Pedro ali estaria sepultado, iam prestar homenagem. Constantino, enquanto imperador de Roma, mandou construir uma basílica nesse ponto de peregrinação.

Pegando novamente nas suas impressões em papel, a guia mostrou-nos uma recriação do que seria essa basílica, e explicou-nos o resto da história. Em 1502, o Papa Júlio II desfez a basílica de Constantino e construiu a actual Basílica de São Pedro.

Já no século XX, o Papa Pio XII ordenou uma reforma à basílica. No decorrer das obras, encontraram-se partes da antiga necrópole. O sepulcro de São Pedro estava ali. Os ossos, no entanto, não estavam.

A arqueóloga Margherita Guarducci encontrou um buraco num muro ao lado do túmulo. No muro, a inscrição Petrós Ení, Pedro está aqui. O conteúdo do buraco estava num armazém: era um conjunto de ossos.

Estima-se que eram de um homem que viveu no século I, com 60-70 anos, idade de São Pedro quando morreu. Os ossos estavam envolvidos num tecido, identificado como sendo do século IV, altura em que Constantino foi imperador. E assim se anunciou que os ossos de São Pedro foram encontrados.

Talvez nunca cheguemos a saber se aqueles ossos eram, de facto, de São Pedro. O que é certo é que esta visita impressiona.

Do subsolo para a superfície

A necrópole é bem maior do que aquilo que nós, visitantes, podemos conhecer. Diz-se que ocupa toda a área debaixo do Vaticano, até ao Castel Sant’ Angelo. As escavações nunca chegaram até aí, no entanto.

Para o nosso grupo, era altura de terminar a visita. Tínhamos percorrido corredores que muitas pessoas nunca ouviram falar. Ficámos a conhecer a história de São Pedro. Vimos um espaço incrível debaixo de terra. Ou seja, melhor parecia impossível. Mas não era.

Passando por escadas e portas tipicamente trancadas, fomos dar ao interior da Basílica de São Pedro. Sim, estávamos lá dentro, sem termos perdido nem um minuto na fila interminável.

Guia prático

Como marcar a visita

O procedimento para marcar a visita à necrópole é relativamente simples. É só enviar um e-mail para o Ufficio Scavi. Os dois endereços de correio electrónico são os seguintes: scavi@fsp.va e uff.scavi@fabricsp.va

Na mensagem, diz que tens interesse em fazer a visita à necrópole debaixo da Basílica do Vaticano.

Escreve o nome, idade e nacionalidade de todas as pessoas que vão fazer a visita. Não te esqueças que os grupos não podem ter mais do que 12 pessoas. Menores de 15 anos não podem fazer a visita.

Põe todas as datas que tens disponíveis, porque não dá para escolher dia nem horário. Se ficares uma semana em Roma, põe todos os dias. Quantos mais dias colocares, mais hipótese existe de haver lugar para ti. No entanto, não coloques os dias em que chegas ou em que te vais embora, pois não dá para escolher horário…

Indica também qual a preferência de idioma. Nós tivemos sorte, e conseguimos ir num grupo com visita em português, mas nem sempre acontece.

Se não falas italiano, escreve o e-mail em inglês. A resposta não demora muito tempo a chegar. Lê o e-mail com atenção, porque dá informação sobre pagamento e indumentária a respeitar.

Toda a informação está disponível na página web do Escritório das Escavações (em inglês).

Informação útil

Site: Escritório das Escavações
Horário: A marcar pelo Vaticano
Preço: 13€
Morada: Entrada pela Via Paolo VI, Cidade do Vaticano

Horários e preços à data de publicação deste artigo.

Alojamento

Aquando da minha visita a Roma, fiquei alojada no Princeps Boutique Hotel. Não é um espaço barato, mas tem uma excelente localização e um óptimo pequeno-almoço. Felizmente, se tens um orçamento mais reduzido, existem várias opções de alojamento. É só questão de procurar!

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Uma visita quase secreta à Basílica de São Pedro, no Vaticano

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