Depois de 7 dias deliciosos na Mongólia, onde conheci um pouco do seu interior e desbravei a sua capital, estava na altura de seguir caminho. Ia cruzar a última fronteira desta viagem transformadora que é o transiberiano, e aventurar-me num novo país: a China.
Até aqui, eu estava habituada aos comboios russos, que não são nada maus mas não são extraordinários. Não esperava encontrar algo melhor durante esta viagem, até porque a carruagem mongol que nos levou de Ulan-Ude a Ulaanbaatar era do mesmo género. E foi então que o comboio chinês chegou.
Muito moderno, os seus compartimentos tinham tomadas eléctricas e ar condicionado. A água quente, que também estava disponível gratuitamente nos comboios russos, encontrava-se num reservatório dentro da parede e não numa caldeira a pingar. As estações seguintes eram anunciadas através de um painel electrónico. O supra-sumo da tecnologia.
Dividimos o compartimento de 2ª classe com dois alemães muito jovens, que a princípio duvidei se eram irmãos ou namorados. Apesar de não serem muito comunicativos, conseguimos perceber que eram irmãos e que iam passar um mês na China, em famílias de acolhimento. Já o tinham feito na Mongólia.
Lá fora, as estepes mongóis iam passando por nós, ou nós por elas. O verde deu lugar ao árido, e as estepes transformaram-se em deserto. As horas foram passando, até que parámos em Zamyn-Üüd (Замын-Үүд), cidade onde nos despediríamos da Mongólia. A espera foi de pouco mais de uma hora, servindo apenas para uma breve verificação de passaportes.
O comboio ganhou velocidade, até parar já do outro lado da fronteira. Em Èrlián (二连) – China, estávamos oficialmente na China! – o controlo foi um pouco mais demorado e envolveu nada mais nada menos do que 5 pessoas diferentes. Cada uma com a sua função.
Um primeiro senhor perguntou as nacionalidades e apontou-as num caderno. Pouco depois, uma senhora apareceu a pedir os papéis de entrada. De seguida, foi a vez de outra senhora pedir os passaportes, para verificação dos vistos. Veio então mais um senhor recolher as declarações de bens. Por fim, chegou um senhor com uma máquina de leitura térmica, que apontou para nós e para o compartimento. Findo este processo, a carruagem seguiu viagem. Para parar pouco depois.
Acontece que a bitola chinesa é diferente da russa e da mongol. Na prática, se a largura da via-férrea é diferente, as rodas do comboio têm de ser mudadas. Connosco dentro do comboio, as carruagens vão para uma oficina onde são levantadas, e começa o processo de troca. Após algumas horas de espera, estávamos prontos para continuar o caminho até Pequim, sem mais interrupções.
A paisagem lá fora começa a mudar, e passamos a estar na companhia de montanhas e grandes desfiladeiros. As vistas são maravilhosas durante todo o trajecto, mas a cerca de 85 quilómetros de Pequim, a emoção começa. Aqui, os comboios passam por dentro das montanhas, havendo diversos túneis. Eu tentei contá-los, e são por volta de 60. Sim, sessenta! Por vezes, os túneis são bastante longos, mas a melhor parte é nunca se saber como será a paisagem assim que o túnel terminar. Uma coisa é certa: é sempre deslumbrante.
Pequim. Finalmente chegámos, depois de quase 2 dias de viagem. Mas não íamos ficar. Agora, era tempo de apanhar o comboio-bala que nos levaria a Xi’an. Os Guerreiros de Terracota aguardavam a nossa chegada.
[…] de chegar a Pequim após quase 2 dias viajando entre Ulaanbaatar e a capital chinesa, íamos apanhar outro comboio. Sim, iríamos regressar a Pequim, mas primeiro decidimos ir dizer […]