Chegámos tarde para o que é nosso costume. A ida ao supermercado para comprar mantimentos tinha-nos atrasado. Não que tivéssemos pressa de chegar, nem hora marcada para o fazer… Mas eu cá gosto de começar a explorar os locais onde me encontro logo de manhãzinha.
O relógio marcava 11h00 quando estacionámos o carro na Lagoa Comprida, quase no topo da Serra da Estrela. Para quem prefere começar pelas 7h30, era tarde. Completamente fora de horas, diria. No entanto, não havia nada a fazer. Não dava para voltar atrás no tempo.
As poucas pessoas que por ali se encontravam estavam prontas para um inverno rigoroso. Casacos bem fechados, cachecóis… Algumas até envergavam luvas e gorro. E nós os dois de manga curta. Manga curta, chapéu, e uma pequena mochila às costas.
Éramos os únicos que não estávamos ali apenas para ver a Lagoa Comprida. Íamos fazer a caminhada até ao Covão dos Conchos ou, como eu lhe chamava anteriormente, o sítio com o buraco na água.
Circulámos a lagoa, a maior de toda a serra. O céu estava límpido, e o sol fazia-se notar, embora suavemente. Era Maio, mas a neve ainda se encontrava a adornar a serra, teimando em não derreter. Ou pelo menos assim parecia. Mais à frente iríamos conhecer as verdadeiras consequências de estarmos na primavera…
Vamos pelo lado esquerdo, passando as lojas de lembrança que por ali se encontram. Há um caminho de terra batida, e é por aí mesmo que seguimos. Algumas pessoas olham para nós, como que a interrogar “para onde é que vocês vão?”. Se soubessem, talvez se quisessem juntar a nós.
Seguimos sempre por esse caminho, que tem algumas zonas com muitas pedras soltas. O trajecto é maioritariamente plano, havendo algumas subidas, onde tive cuidado para não escorregar nas pedras. Não que o piso seja especialmente propício a isso… Mas sim porque eu tenho uma tendência natural para quedas. Acho que me está nos genes.
A dada altura, encontrámos uma bifurcação. Seguimos pela esquerda, por uma ligeira subida, onde água cristalina escorria suavemente pelas pedras. De onde vinha aquela água? Estávamos prestes a descobrir.
A neve que víramos da Lagoa Comprida estava, agora, bem ao pé de nós. O inverno tinha deixado uma camada branca a cobrir os montes, que começava lentamente a derreter. O resto do percurso parecia uma autêntica pista de obstáculos. Tínhamos de passar por uma mistura de neve, água e lama. Mas nada nos faria arredar caminho.
A cada passo que dávamos, apreciávamos a beleza à nossa volta. Ali, éramos só nós e a serra. Durante quase todo o trajecto, fomos apenas acompanhados por vegetação rasteira e neve a brilhar ao sol.
Uma hora e meia depois do início da caminhada, avistámo-la. A Lagoa do Covão dos Conchos parecia ter estado toda a manhã a aguardar a nossa chegada. Podíamos ter-lhe feito a vontade, andando mais depressa e chegando mais cedo. No entanto, aqui a viagem é tão importante como o destino.
A lagoa parece bastante comum, num primeiro olhar. Mas os nossos ouvidos rapidamente se apercebem que não é assim. Há água que corre, salta, brinca… Só que a lagoa está aparentemente calma. De onde vem este som? Ao contornar a lagoa pelo lado direito, chegamos ao causador daquela música: uma espécie de funil, o tal buraco na água.
Se estivermos menos atentos, parece um fenómeno natural. No entanto, não o é. A Lagoa do Covão dos Conchos é, na verdade, uma barragem. Através de um túnel construído na década de 50 do século XX, a barragem desvia água da Ribeira das Naves para a Lagoa Comprida. Feito de betão e granito, o túnel serve para manter constante o nível da água na Ribeira das Naves.
Depois de aproveitarmos para comer e descansar um pouco, estava na hora de regressar, pelo mesmo caminho. Na volta, um primeiro grupo de pessoas passa por nós. Perguntam-nos “O buraco na água é por aqui? Falta muito? Vale a pena?”. Dali são só mais 10 minutos, estão mesmo quase a chegar! A nossa resposta dá-lhes um novo ânimo, e seguem caminho.
Mais três grupos diferentes passaram por nós (ou nós por eles), todos com as mesmas questões. Para uns, seriam mais 20 minutos a andar. Os últimos que encontrámos, ainda tinham 40 minutos de caminhada. Não ficaram animados com a resposta.
Infelizmente, não se aperceberam que este percurso pedestre é muito mais do que apenas o seu destino… Cada etapa do caminho é única, de uma beleza ímpar. Se vale a pena? Para mim, sem dúvida. Se voltaria? Num abrir e fechar de olhos.
Guia prático
Como chegar
Para chegar ao Covão dos Conchos, há um caminho que tem início no lado esquerdo da Lagoa Comprida, na Serra da Estrela. Aqui, há espaço suficiente para se deixar o carro. Deixo aqui as coordenadas GPS: 40°21’54.9″N 7°38’48.0″W. Se preferires, podes ver aqui no mapa.
Dicas
★ Leva roupa e calçado confortáveis, de preferência de caminhada. Se o calçado for impermiável, melhor.
★ Leva protector solar e chapéu de sol, especialmente se houver neve. O reflexo do sol na neve pode causar escaldões.
★ Se fores no inverno, veste-te em camadas. No início pode estar frio, mas vais aquecer com a caminhada.
★ Tem cuidado com os locais onde pões os pés. Há zonas com pedras soltas, e no inverno há gelo escorregadio.
★ Não te esqueças de levar água e comida. Naturalmente, não há caixotes do lixo por ali. Acho que não preciso de dizer, mas se a embalagem foi contigo, também volta contigo, não é?
Informação útil
★ Dificuldade: Baixa
★ Tipo de percurso: Linear
★ Extensão: 10 quilómetros (ida e volta)
★ Tempo médio: 2h30/3h00 (ida e volta)
★ Percurso não sinalizado
Mapa do percurso
Alojamento
Como um dia não são dias, fiquei no Stroganov Hotel & Spa, um hotel de 5 estrelas ao pé de Oliveira do Hospital. No entanto, tipicamente não é este o tipo de alojamento onde fico. Perto da Serra da Estrela, há opções muito mais em conta. É só questão de procurar, de certeza que vais encontrar algo que te agrade (a ti e à tua carteira).
Pesquisar alojamento perto da Serra da Estrela
Então da próxima vez que fores avisa-me :P.
Quando estive por aí comecei por brincar na Torre mas logo de seguida começou a nevar consideravelmente e acabou por ficar para trás!
Combinado! Aviso, pois!
Ver a Serra enquanto está a nevar deve ser uma experiência bonita 🙂 Eu só vi a neve já pousada.
Catarina, estou planejando em viajar por essa região de Seia em setembro. Adorei o seu post, as dicas. Muito obrigada!
Obrigada eu, ainda bem que foi útil! 😀 De certeza que vais adorar, é uma região muito bonita!
Muito fixe! Vou apontar este percurso para a próxima ida à Serra da Estrela 🙂
Estive pela primeira vez em 2017 e fiquei apaixonada pela região, aconselho-te a fazer a Rota dos Socalcos na aldeia de Cabeça em Seia, vais adorar! Escrevi um post sobre a minha ida à Serra da Estrela se quiseres podes ver algumas fotos da rota por lá.
Boa, depois conta-me o que achaste 😀 Obrigada pela dica! Parece bem interessante, estive a ver as tuas fotografias 🙂 Fica já marcado para a minha próxima ida para esses lados.
Depois de uma bela estadia no parque natural da Serra, eu e a minha namorada decidimos ir até ao famoso covão dos conchos.
Começamos à rota por volta das 13h e cheios de dúvidas… Até que vi o seu precioso post e passado 1h30 já estávamos no local desejado.
Um grande bem haja pelas dicas principalmente naquela onde fala da água cristalina a passar pelas pedras 🙂 foi uma bênção referir isso. O percurso foi maravilhoso! Valeu bem a pena! Muito obrigado! 😉
Olá Allex! Que bom, ainda bem que este artigo foi útil para vocês e conseguiram encontrar o caminho até ao Covão dos Conchos 😀 É um lugar maravilhoso, não é?