Há muito tempo que a Rota Vicentina povoava o meu imaginário. Este conjunto de trilhos pedestres leva-nos ao longo de 750 quilómetros de puro deslumbramento, entre arribas recortadas e caminhos rurais.
O Caminho Histórico e o Trilho dos Pescadores são as duas grandes rotas principais. O primeiro tem uma paisagem pautada por serra, vales, rios e ribeiras. O segundo, por sua vez, segue sempre junto ao mar, ao longo de falésias e areia clara.
No entanto, cada etapa destas grandes rotas é longa, com mais de 15 quilómetros. Na verdade, muitas delas exigem um dia inteiro de caminhada… Infelizmente, tal não era possível para mim naquela altura.
Não havendo tempo para uma etapa completa, tive de me contentar com um percurso mais pequeno, mas que me ia deixar completamente encantada. O eleito foi o percurso circular das Dunas do Almograve!



Caminhando pela região agrícola
Sendo este um percurso circular, o início e o fim encontram-se no mesmo local. No entanto, era necessário escolher a direcção pela qual queríamos começar. Observámos o mapa, e percebemos que o trilho tem duas partes: uma interior, e uma costeira. Acima de tudo, eu queria deixar o mar para o fim, para terminar em beleza.
Assim, seguimos pela estrada em direcção à Longueira. Pouco depois de iniciado o percurso, há um caminho para a esquerda, com um pequeno sinal indicando que é por ali que devemos seguir.
Durante uma parte do caminho, a paisagem é predominantemente agrícola, com campos de pastagem e pousios. Dizem que existem por aqui existem vários charcos temporários, mas não os encontrei.
Depois, somos abraçados pelas árvores, e passamos por entre troncos e ramos. Os nossos pés, esses, vão estranhando a areia fina, que torna a caminhada mais exigente. É preciso ter algum cuidado, de modo a não escorregar nas folhas que se estendem por cima da areia.
Após atravessarmos uma pequena ponte, a vegetação torna-se menos densa. A areia, no entanto, vai-se tornando mais abundante, e encontramos a sinalização do Trilho dos Pescadores. Estávamos quase a chegar às dunas!



Caminhando pelo trilho costeiro
Ali estavam elas, as tão desejadas Dunas do Almograve… Lá ao fundo, o oceano Atlântico sorria para nós. Desafio qualquer um a tentar ficar indiferente à deslumbrante linha de costa, com as suas falésias escarpadas e vegetação rasteira. Simplesmente não irão conseguir.
Ao caminhar por aqui, vivemos a costa com todos os nossos sentidos. O vento que nos beija a cara, o cheiro da maresia, o canto das ondas, as cores da paisagem, os lábios que ficam a saber a sal… De cima, do alto das dunas, tudo parece diferente. Lá em baixo, vamos avistando o longo areal da praia do Brejo Largo.
A dada altura, e como se andar sobre areia não fosse por si só desafiante, uma nova aventura esperava por nós. Primeiramente, é necessário descer a duna, até ao areal da praia da Foz dos Ouriços. Em seguida, temos de atravessar a praia até ao outro lado.
Dependendo das chuvas e das marés, pode ser necessário retirar os sapatos e atravessar um pequeno riacho. No entanto, conseguimos encontrar pequenas pedras que, com algum cuidado e equilibrismo, nos permitiram passar para o outro lado sem molhar os pés.
Agora, é só necessário voltar a subir a duna e logo se avista a praia do Almograve, onde tínhamos iniciado o percurso. Mas entre avistar e chegar, ainda vai alguma distância… No entanto, a paisagem compensa qualquer dificuldade que possamos estar a sentir.



O percurso circular das Dunas do Almograve é uma excelente opção para quem quiser uma caminhada mais curta, ao mesmo tempo que beneficia de uma paisagem diversa.
Seguindo em sentido anti-horário, observamos primeiro a visível intervenção humana, junto dos campos agrícolas. Mais à frente, desfrutamos da linha de costa selvagem, com as suas dunas e vista para o oceano. Vemo-nos por lá num destes dias?
Guia prático
Como chegar
A forma mais fácil de se chegar ao início do percurso circular das Dunas do Almograve é de carro.
A partir de Odemira, é só seguir pela estrada nacional 393 até ao cruzamento do Almograve.
De Sines, o melhor será seguir em direcção a Vila Nova de Milfontes e depois tomar a nacional 393 até ao cruzamento do Almograve. Em Almograve, junto à costa, existe um parque de estacionamento.
Deixo também as coordenadas GPS para o início do percurso: 37° 39′ 10″ N 8° 47′ 33″ W.
Dicas
- Aconselho a fazer o percurso no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Assim, as dunas e o mar ficam para a segunda metade do percurso, e a brisa marítima vai ajudar em dias mais quentes.
- Leva roupa e calçado confortáveis, de preferência de caminhada. Há uma grande parte do percurso que é feita pela areia, pelo que o calçado deve ser fechado.
- Não te esqueças de levar água e comida, assim como chapéu e protector solar. Não há caixotes do lixo, por isso guarda tudo o que levares.
- Se possível, começa a caminhada de manhã cedo, e tenta evitar dias muito quentes. A época aconselhada é de Setembro a Junho.
Informação útil
Dificuldade: Média
Tipo de percurso: Circular
Extensão: 8,5 quilómetros
Tempo médio: 3h00/3h30
Sinalização: Sinalizado com marcas de pequena rota (amarelo e vermelho). Junto à costa, o percurso coincide com a grande rota do Trilho dos Pescadores (azul e verde). Assim, nessa altura, os postes têm, de forma alternada, os dois conjuntos de cores.
Mapa do percurso
Alojamento
Em Almograve existem algumas opções de alojamento, e de certeza que vais encontrar algo que te agrade. Desde a Pousada de Juventude e do Almograve Beach Hostel, até ao magnífico Zmar Eco Experience (um pouco mais afastado), há de tudo, para todos os gostos.
Outras alternativas incluem ficar a dormir mais a norte, em Vila Nova de Milfontes, assim como mais a oeste, em Odemira.
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