Fui a Évora a convite do grupo AccorHotels (marca Ibis), numa acção para promover a cidade de Évora enquanto destino. O programa tinha uma parte organizada e outra livre, onde eu podia fazer o que quisesse. É sobre a parte livre de que hoje falo.
Li quase todas as obras de Eça de Queiroz. Não por obrigação, mas por gosto. Os Maias, leitura que fazia parte do plano curricular de Português da minha escola secundária, foram por mim devorados no verão anterior ao seu estudo mais aprofundado em sala de aula.
O Primo Basílio, A Cidade e as Serras, Contos, O Mistério da Estrada de Sintra, e A Capital, foram as leituras que se seguiram. Ainda me faltam alguns livros mas, a seu tempo, irei ler toda a obra do escritor português do final do século XIX.
Eça de Queiroz, depois dos seus anos de estudante em Coimbra, chegou a Évora em 1866. O objectivo? Fundar o jornal Districto de Évora, do qual era redactor e director político. Eça ficou na cidade menos de um ano, até Agosto de 1867. É essa Évora que tentamos encontrar hoje.
Na altura com cerca de 12 mil habitantes, a cidade era conservadora, com palacetes, serões e bailes, conjuntamente com uma economia baseada na agricultura e casas mais modestas. Vamos conhecer a Évora de Eça de Queiroz.
Rossio de São Brás
Ao vir da estação de comboios de Évora, rapidamente cheguei ao Rossio de São Brás. Um grande espaço aberto, ainda hoje o maior da cidade, era um local polivalente. Ali, realizavam-se feiras e festas, assim como mercados de gado.


Palácio Barahona
Segui caminho até ao Palácio Barahona, actual Tribunal da Relação de Évora. As portas estavam abertas, e apenas um segurança se encontrava lá dentro. Entrei, com confiança, e perguntei se podia fotografar. Com um sorriso no rosto, o segurança proferiu um simpático “claro que sim!”.
No pequeno pátio onde me encontrava, admirei parte do edifício neoclássico que albergou reis, rainhas, e diversos nobres. No tempo em que Eça de Queiroz esteve em Évora, o edifício estava a ser construído.
O seu estilo é diferente de tudo o que se encontra na cidade, em particular por não ter a sua fachada pintada com o típico amarelo e branco que marcam a paisagem eborense.



Passeio Público
Mesmo em frente ao Palácio Barahona encontra-se o Passeio Público. Este jardim maravilhoso conta com diversos bancos para descansar, e um conjunto de monumentos interessantes.
Num mesmo espaço, podemos encontrar parte de uma muralha medieval, o Palácio de D. Manuel, do século XVI, um coreto instalado em 1877, assim como as curiosas Ruínas Fingidas. Estas últimas foram criadas utilizando ruínas de vários monumentos, que vieram um pouco de toda a cidade.
Quando Eça de Queiroz esteve em Évora, o Passeio Público era um local de encontros, passeios, festas e concertos. Ainda hoje o é. No entanto, o seu acesso era pago, e actualmente qualquer um pode usufruir deste espaço incrível no meio da cidade.



Praça de Touros das Mercês
A Praça de Touros das Mercês terá sido a primeira da cidade de Évora. Hoje transformada em hotel, parte da sua fachada ainda mantém a forma circular da desaparecida praça. No seu jornal, Eça de Queiroz escreveu sobre as touradas que ali se realizaram.
Travessa dos Frades Grilos
Confesso que tive alguma dificuldade em percorrer, ao meu ritmo, a Travessa dos Frades Grilos. Houve uma pequena disputa entre mim, que queria fotografar as bonitas casas amarelas e brancas; e os carros, que queriam passar.
O esforço compensou, porque esta é uma das mais interessantes travessas da cidade. Situada entre a Rua Romão Ramalho e a Rua do Raimundo, terá sido aqui que Eça de Queiroz morou aquando da sua estadia em Évora.

Praça do Giraldo
A principal praça da cidade foi nomeada Praça do Giraldo em 1869. Cheia de vida, muito por causa dos cafés e esplanadas que ali se encontram, esta praça representa o coração da cidade.
Quando Eça de Queiroz esteve em Évora, era conhecida por Praça Grande. Já nessa altura era um dos mais populares pontos de encontro. Aqui se localizavam os Paços do Conselho, o Tribunal e a Cadeia, assim como os principais cafés e comércio diverso.


Rua João de Deus
A Rua João de Deus liga a Praça do Giraldo à actual Praça Luís de Camões. Na época, chamava-se Rua Ancha, e era diariamente calcorreada por Eça de Queiroz, em direcção à redacção do jornal, na Praça de Joaquim António de Aguiar.
Na Rua do Imaginário, então conhecida por Beco do Imaginário, era onde se encontrava o jornal Folha do Sul. Este jornal defendia o governo central, e manteve acesos debates com Eça de Queiroz.


Praça de Joaquim António de Aguiar
No primeiro andar do número 3A da Praça Joaquim António de Aguiar situava-se a sede, redacção e administração do Districto de Évora, o jornal de Eça de Queiroz. Na fachada do edifício encontra-se uma placa, colocada em 1950, que evoca a presença de Eça na cidade.


Aqueduto da Água de Prata
O Aqueduto da Água de Prata foi inaugurado em 1537, no reinado de D. João III. Funciona ainda hoje, contribuindo para o abastecimento de água na cidade.
Na época em que Eça de Queiroz esteve em Évora, o aqueduto encontrava-se em muito mau estado, facto que foi assinalado no seu jornal. Felizmente, foi alvo de obras de reabilitação, mantendo sempre o traçado original.


Teatro das Casas Pintadas
O Teatro das Casas Pintadas foi o primeiro teatro público de Évora. Em 1884, o teatro acabou por ficar em ruínas e foi vendido em hasta pública. No entanto, não quis deixar de passar na travessa que lhe deu o nome, a Travessa das Casas Pintadas.
Eça de Queiroz, no seu jornal, comentou diversos dos espectáculos que ali se realizaram. Também comentou o seu estado de conservação precário, mas não conseguiu impedir que o teatro acabasse mesmo por desaparecer.
Poucos anos depois do Teatro das Casas Pintadas ter desaparecido, foi construído o Teatro Garcia de Resende. Curiosamente, a sua localização era na praça do jornal de Eça.

Biblioteca Pública de Évora
A Biblioteca Pública de Évora, fechada para obras aquando da minha visita à cidade, foi fundada em 1805. O seu director na época de Eça de Queiroz era o Dr. Augusto Filipe Simões.
Para além de dirigir a biblioteca e ter coordenado a reestruturação do edifício, Augusto Filipe Simões também escrevia para o jornal Folha do Sul. Era um claro opositor político de Eça.
Liceu de Évora
A visita à Évora Queirosiana termina no Liceu Nacional de Évora, no actual edifício da Universidade de Évora. Eça de Queiroz escreveu diversos artigos no seu jornal sobre a agitada vida académica da cidade, onde os estudantes do Liceu usavam capa e batina desde 1860.
Ficaste com vontade de visitar Évora pela perspectiva de Eça de Queiroz?
Guia Prático
Como chegar
Cheguei a Évora de comboio, vinda de Lisboa. Foi uma das melhores opções que tomei. A viagem é muito agradável e, em hora e meia, percorri a distância entre as duas cidades. A estação de comboios de Évora fica a sul da cidade, mas uma curta caminhada nos leva até ao centro.
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Outra opção é ir de autocarro. Demora um pouco mais mas, dependendo da altura em que se compram os bilhetes, pode ficar um pouco mais em conta do que o comboio.
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Mapa com a rota
Alojamento
Como referi no início do artigo, a minha ida a Évora esteve enquadrada numa acção por parte do grupo AccorHotels (marca Ibis). A oferta do alojamento fazia parte desta iniciativa, e fiquei alojada no ibis Évora. O hotel está bem localizado, muito próximo do Passeio Público. Tem tudo o que se pode encontrar noutros hotéis da mesma rede. Há estacionamento livre no local, mas se não houver lugares há um parque subterrâneo pago. O pequeno-almoço pode ou não ser incluído.
Apesar de Évora não ser uma cidade grande, há mais alternativas de alojamento, por isso é só questão de procurar. De certeza que vais encontrar um espaço que seja do teu agrado!
Vivi e estudei em Évora alguns anos, vinda de Lisboa e sou atualmente professora de Português , ainda pelo Alentejo, um pouco mais a norte. Em tempos de pandemia, resolvi fazer uma visita a Évora , a propósito de Eça de Queirós. ..E eis que me deparo com este artigo excepcional ! A autora importa-se que o use para fins pedagógicos…? Claro que tenho uma perspetiva muito completa e pessoal da cidade, mas gostava de recomendar a página aos alunos.
Olá Helena! Évora é uma cidade fantástica, não é? Fico muito contente que o artigo tenha despertado a atenção, e claro que pode ser utilizado para fins pedagógicos. Terei todo o gosto em que os alunos apareçam por aqui, muito obrigada!
Obrigada ! E mais uma vez, parabéns pelo artigo!! Acho que vai entusiasmar os meus alunos. Continuação de ótimas viagens. Visitei o seu Facebook e é fantástico o que visitou e o que nos mostra, (até a Pampilhosa, 🙂 terra dos meus avós! ).
Muito obrigada, mais uma vez! Acredito que cada cantinho de Portugal merece ser explorado 🙂