Aceder à Internet na China: a minha (terrível) experiência e como ultrapassar o bloqueio

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Quando estava a planear a viagem pelo caminho-de-ferro transiberiano, não me preocupei com o acesso que teria à Internet. Por experiência, sabia que na Rússia não haveria problema. Nos comboios, assim como no interior da Mongólia, sabia que ia estar desligada do mundo. Apenas tive de dizer à minha mãe quanto tempo iria estar sem dar notícias.

Por outro lado, também sabia que, na China, há restrições de acesso a algumas páginas web. No entanto, pesquisei muito pouco sobre isso. Para fins pessoais, a questão não era importante.

A viagem em si estava planeada, o alojamento estava reservado. Não era imperativo aceder às redes sociais. Nem sequer tinha levado computador. E, na pior das hipóteses, enviaria uma mensagem tranquilizadora à minha mãe (apesar dos preços proibitivos das comunicações internacionais).

No entanto, no final da viagem, iria precisar de aceder ao meu e-mail da faculdade. E o final da viagem era em Pequim. Qual o problema? O meu e-mail da faculdade faz parte da G Suite, que tem todos os serviços da Google mas com o domínio da empresa (ou universidade, neste caso). Na China, tudo o que é da Google está bloqueado. Da Google e não só. 

Vi-me obrigada a pesquisar soluções no Baidu (o motor de pesquisa chinês). Não foi a melhor experiência.

Se pretendes ir para a China e precisas de um acesso livre à Internet, arranja soluções antes da viagem. Será muito mais fácil do que tentar encontrá-las lá, em pleno bloqueio. Este artigo serve para te ajudar nesse processo.

Já agora, o problema apenas se põe na China. Em Macau e Hong Kong, não há restrições.

Censura da Internet: o Grande Firewall da China

A primeira vez que me liguei à Internet na China foi em Xi’an, no hostel. À primeira vista, parecia que estava tudo normal. O meu telemóvel começou a apitar com notificações do Instagram. O meu companheiro de viagem recebia notificações do Facebook. Ao tentar aceder às notificações, no entanto, o caso mudava de figura. Era impossível aceder.

Apesar de algumas notificações passarem, há muitas páginas web e aplicações que estão bloqueadas. Os exemplos mais conhecidos são: Facebook, Instagram, Twitter, Dropbox, e tudo o que seja da Google (inclui Gmail, YouTube, Google Maps, Google Drive, Google Calendar). Até a Wikipedia e muitos jornais estrangeiros estão bloqueados. O WhatsApp tem dias.

A este bloqueio, costuma-se chamar Grande Firewall da China (do inglês Great Firewall of China), mas o seu nome oficial é Projecto Escudo Dourado (金盾工程, jīndùn gōngchéng). No fundo, é um projecto de censura e vigilância da população, que teve início em 1998 e começou a operar oficialmente em 2003.

Devido à censura, o projecto acabou por influenciar o desenvolvimento da economia interna, contribuindo para a criação de diversas empresas chinesas. Exemplos disso são o Baidu (substituto do motor de pesquisa da Google), o Youku (substituto do Youtube), o Renren (substituto do Facebook) e o Sina Weibo (substituto do Twitter).

Como ultrapassar o bloqueio

Antes de explicar como ultrapassar o bloqueio, há algo que deve ficar claro: a legalidade da solução está numa área cinzenta. 

Não tenho o hábito de dar dicas ou sugestões que vão contra a lei ou que pretendam enganar o sistema. Excepto, talvez, a minha aventura pela Grande Muralha da China… De resto, nem sequer tiro fotografias onde não é permitido. Nem sorrateiramente. Não é permitido, não tiro. Simples. Mas ter uma Internet livre é algo que valorizo, então abro uma excepção. Faz sentido?

Confesso que também é por uma questão de egoísmo. Sim, o Mundo Indefinido está bloqueado na China – porque o blogue usa uma conexão segura (HTTPS). Quero que consigas aceder as todas as publicações quando estiveres por lá!

A forma mais fácil de aceder a páginas web e aplicações de telemóvel bloqueadas é através de uma VPN (Virtual Private Network). De forma simples, uma VPN criar uma ligação segura e encaminha o tráfego de Internet por um servidor, neste caso situado noutro país. Na prática, temos o mesmo acesso que teríamos num outro país à nossa escolha, mesmo não estando lá.

Passei uma manhã a encontrar uma VPN gratuita que funcionasse. Pesquisar no Baidu não é fácil, porque os resultados que apresenta são da China, não do mundo inteiro. Fui testando várias VPN que encontrei, mas não funcionaram. Nem uma.

Cheguei também a testar várias extensões de VPN para o Chrome e para o Firefox. Algumas tinham sido instaladas ainda em Portugal, mas nenhuma funcionou. Começava a desesperar, quando encontrei a FlyVPN.

Apesar de ser paga, tem uma versão de teste gratuita. Dá para todos os sistemas operativos (Windows, Mac, Linux, iOS e Android). O limite de utilização é de 3 vezes por dia, máximo de 20 minutos de cada vez. Quando instalei, no entanto, ofereciam 14 dias de utilização gratuita, sem restrições.

Esta funcionou para mim e para as necessidades de acesso que eu tinha na altura. Mas há muito mais opções, tanto gratuitas como pagas, como ExpressVPN, VyprVPN ou Betternet. No geral, as gratuitas não funcionam muito bem.

Em 2018, o governo chinês começou também a bloquear algumas VPN. Por isso, manter uma lista actualizada das que funcionam não é fácil. Um bom guia é o blogue Travel China Cheaper, que tem uma página inteiramente dedicada a VPN. A página é actualizada com bastante frequência, e conta ainda com opiniões sobre várias VPN disponíveis (conteúdo em inglês).

Sobre a legalidade das VPN

Para as empresas internacionais, as VPN são praticamente obrigatórias. Sem elas, não conseguiriam operar o seu negócio a partir da China. Assim, para negócios, deve-se pedir uma autorização ao governo para utilização de VPN, que costuma ser concedida. Utilizar VPN nas empresas sem autorização é ilegal.

Para o cidadão comum, o caso é diferente. Uma pessoa comum não pode pedir autorização. As VPN são conhecidas e utilizadas por grande parte da população chinesa, mas isso não as torna propriamente legais. Também não são exactamente ilegais. Como disse antes, estamos numa área cinzenta.

No entanto, não há relatos de estrangeiros que tenham tido problemas com as autoridades por utilizarem VPN.

Quando estiveres a planear a tua viagem à China, não te esqueças de instalar a VPN antes da partida! Assim, quando chegares, podes desfrutar de uma Internet livre, sem bloqueios nem restrições.

Todas as imagens foram retiradas do site Pexels.

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