As palavras Mina de Ciência adornavam o edifício, e aguçavam a minha curiosidade. Tínhamos sido os primeiros a chegar ao Centro Ciência Viva do Lousal, ainda antes da bilheteira abrir. Ao entrar, viríamos a descobrir que aquele espaço era, na verdade, três em um. Mas já lá vamos.
Em tempos, aquele local tinha sido o centro de uma pequena comunidade, que crescera em volta da mina. Refiro-me à Mina do Lousal, onde se explorava pirite.
Durante cerca de um século, a população de Lousal tinha a mina como principal fonte de subsistência. Dali, saiam todos os dias várias toneladas de pirite, de onde se extraia enxofre para produzir adubo.
No entanto, quando deixou de ser rentável, a mina foi encerrada. Corria o ano de 1988 e, naquela altura, dezenas de mineiros ficaram sem trabalho. Assim, as famílias, que tinham crescido com o desenvolvimento da mina, deixaram de ter sustento.
Mais tarde, a empresa responsável pela exploração, em conjunto com a Câmara de Grândola, começou um projecto de requalificação e revitalização de Lousal: o RELOUSAL.
O projecto incluiu cursos de formação para os habitantes, e uma oferta turística assente fortemente na identidade mineira. Acima de tudo, é uma homenagem às diferentes gerações de mineiros que, ao longo de quase cem anos, exploraram estas minas.
Agora, para além do Centro Ciência Viva do Lousal, podemos ainda explorar o Museu Mineiro e a Galeria Mineira Waldemar. Foram esses três espaços que visitámos, e que hoje partilho.
Centro Ciência Viva do Lousal
Sem terra não há carochas
Três Volkswagen Carocha aparecem à nossa frente, presos de uma forma misteriosa. À frente de cada um encontram-se diversos materiais. São os recursos metálicos, não metálicos e hidrocarbonetos que compõem um carro. Então, o que seria dos carochas sem eles?
É isso que observamos: o carro vai sendo despido do material que aparece na bandeja à nossa frente. No final, apenas restam os passageiros. É impressionante a quantidade de materiais que a Terra nos dá. São, com toda a certeza, recursos geológicos importantíssimos e, sem eles, não há carochas.



Home Sapiens
As paredes onduladas estão adornadas com objectos no nosso quotidiano. Porque é que se chama Home Sapiens? Porque é sobre a nossa casa! Nesta exposição interactiva, que acompanha a linha por onde passavam os vagões da mina, exploramos as diversas coisas que temos nas nossas habitações.
Através de vários jogos e actividades, ficamos a saber de onde vem o cobre que usamos nos cabos eléctricos, ou como funciona o microondas. Em seguida, focamo-nos em compreender o bolor e o pó dos nossos móveis. Por fim, aprendemos como é que os detergentes actuam nas superfícies sujas.
Haveria muito mais a explorar, mas decidimos continuar para o local seguinte. Caso contrário, eu facilmente teria ficado o dia todo por ali e não veria mais nada…


Banho de ciência
Era aqui, após um dia de trabalho cansativo e fisicamente exigente, que os mineiros tomavam banho. Hoje, já não sai água dos chuveiros, mas sim luz.
Neste espaço ficamos a conhecer um pouco mais sobre minas, assim como sobre os minérios que nelas podemos encontrar. Esta é, sem dúvida, uma exposição interactiva muito bem conseguida. Geologia nunca me interessou profundamente, mas fiquei fascinada com os minerais ali apresentados.


Museu Mineiro
O Museu Mineiro encontra-se no local da antiga Central Eléctrica. Entre 1934 e 1992, esta central fornecia energia ao complexo mineiro e à população de Lousal. Mais tarde, propôs-se a criação do Museu Mineiro, que acabou por ser inaugurado em 2001.
Desde então, este espaço passou a funcionar como museu, com um conjunto de equipamentos que nos transportam aos anos gloriosos da mina.


Galeria Mineira Waldemar
Já referi algumas vezes que gosto quase tanto de estar debaixo de terra como gosto de estar em cima dela. Assim, nunca perco uma oportunidade de visitar uma mina.
Na Polónia, tinha adorado as Minas de Sal de Wieliczka. Por outro lado, na Roménia, a Salina Turda deixou-me com sentimentos contraditórios. A nível nacional, estive ainda nas Grutas de Mira de Aire e nas Grutas da Moeda. Agora, era altura de descer até às profundezas da Terra pela Galeria Mineira Waldemar.



Esta galeria horizontal tem cerca de 300 metros de extensão. Durante a visita, na qual somos acompanhados por um guia, ficamos a conhecer diferentes aspectos relacionados com a actividade mineira.
Ao longo do percurso, vamos obtendo informação sobre a extração mineira e a pirite, bem como sobre toda a geologia e biologia do local.


No final da visita, passamos junto a uma pequena lagoa, com tons avermelhados. Porque é que a Mina do Lousal tem uma lagoa vermelha? De forma simples, as águas de drenagem da mina têm uma grande concentração de óxidos de ferro, o que faz com que se obtenha esta cor.
A legislação ambiental anterior a 1990 não obrigava a que houvesse reabilitação de áreas mineiras encerradas. No entanto, tem havido um esforço para a criação de um sistema de tratamento de águas ácidas, como a desta lagoa, através de biorremediação. Estou curiosa para ver como estará esta água daqui a uns tempos!
Uma visita completa a estes três espaços levou-nos o dia todo. Mas este é um local para visitar assim mesmo, com calma, sem outros planos. Porque os melhores sítios são aqueles onde nem damos pelo tempo passar, e este é um deles.


Guia prático
Como chegar
A forma mais fácil de se chegar ao Centro Ciência Viva do Lousal é de carro. Assim, de Lisboa, é só seguir pela A2 até à saída 10 para o IP8, em direcção a Beja. Depois, é necessário sair em direcção ao IC1/Algarve. A partir daqui, haverá indicações para o Lousal, mas em caso de dificuldade o GPS irá ajudar.
Informação útil
Site: Centro de Ciência Viva do LousalHorário: De terça-feira a domingo, das 10h00 às 18h00. As visitas guiadas à Galeria Mineira Waldemar acontecem às 15h00.
Preço: 7€ para o Centro Ciência Viva e Museu Mineiro; 6€ para a visita guiada à Galeria Mineira Waldemar (preços detalhados)
Morada: Avenida Frédéric Velge, 7570-006, Lousal
Importante: Para a visita à Galeria Mineira Waldemar, é necessário fazer marcação. Além disso, é ainda aconselhado que se leve roupa e calçado confortáveis, e não se devem utilizar chinelos ou sandálias.
Nota: Horários e preços à data de publicação deste artigo.
Alojamento
Por ser uma aldeia, Lousal não tem uma oferta de alojamentos abrangente. Existe, no entanto, o Hotel Lousal, bem perto das minas. Há ainda a Herdade Alem Santos e o Refugio Das Origens, embora um pouco mais afastados. Uma outra opção será ficar em Grândola. Mas é questão de procurares na região, de certeza que vais encontrar algo que te agrade.
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