Oktoberfest: de uma festa de casamento a um festival de cerveja

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Assim que cheguei a Munique (München), via, em todas as ruas, pessoas vestindo o tracht. O traje típico da Baviera era orgulhosamente ostentado, tanto por nacionais como por estrangeiros. A Oktoberfest só começaria no dia seguinte, mas o seu espírito já andava a palmilhar as ruas da cidade há alguns dias.

As mulheres passeavam os seus dirndl, inconfundíveis vestidos com um pequeno avental e amplos decotes. Pelo local onde o nó do avental se encontrava, podia saber o estado civil das mulheres que os usavam. O nó está do lado esquerdo? Solteira. Encontra-se do lado direito? Casada ou comprometida. Aparece na parte de trás? Viúva (ou empregada de mesa).

Os homens envergavam os lederhosen, calções de couro que podem ter diferentes tamanhos. O seu comprimento, no entanto, não dá informação nenhuma sobre o estado civil do homem…

As formas primordiais destes trajes remontam ao século XVII, mas não compreendo que, hoje, ainda exista esta distinção. É irrelevante saber o estado civil do homem, mas o da mulher é importante?

Em boa verdade, talvez algumas mulheres apertem o nó do avental onde muito bem entendem. Contudo, as que reparei que tinham aliança, estavam com o nó do lado direito… Actualmente, já se encontram lederhosen para mulheres, mas os dirndl continuam a ser predominantes.

A 22 de Setembro, sábado, era dia da abertura da festa em 2018. Depois de passear um pouco pela cidade, dirigimo-nos para a Josephspitalstrasse. Era daqui que partiria o desfile, a caminho da Theresienwiese.

Carruagens puxadas por cavalos ricamente decorados transportavam barris de cerveja, em perfeito equilíbrio. As bandas que tocam nas tendas de cada cervejaria animavam a rua, tocando músicas alegres. Os empregados das tendas, que daí a pouco carregariam comida e bebida sem parar, diziam-nos adeus.

Fomos avançando na rua, desbravando caminho até ao recinto da festa. Para a quantidade de pessoas que ali se encontravam, a entrada foi célere. Uma breve verificação de malas por parte da segurança e pudemos entrar.

Ali dentro, todo um mundo para descobrir. Cada cervejaria tinha a sua tenda, com elaboradas decorações exteriores e interiores. As barraquinhas mais pequenas, ao longo das ruas, vendiam salsichas, bretzels, e diversas outras iguarias.

Uma roda gigante marcava o horizonte, e o ar era preenchido por gritos oriundos das diversas atracções. Montanhas russas, casas do terror, carrosséis dos mais variados tamanhos… Há de tudo, para todos os gostos. Os preços, esses, variam.

Assim começava a Oktoberfest de 2018! Para percebermos esta festa, no entanto, temos de recuar até 1810. A 12 de Outubro desse ano, o futuro rei Ludwig I casou-se com a princesa Therese de Saxe-Hildburghausen. Os cidadãos foram convidados a participar nas festividades, que duraram até 17 de Outubro. Para encerrar a festa, houve uma corrida de cavalos.

Já nessa altura existia degustação de vinho e cerveja, embora esta última tenha ganho mais relevo a partir de 1850. O sucesso desta celebração fez que fosse marcada outra festa para o ano seguinte, e assim começou uma tradição.

O espaço onde a comemoração do casamento aconteceu passou a chamar-se Theresienwiese, em homenagem à noiva. Os habitantes abreviaram o nome para Wiesn.

O festival não aconteceu todos os anos, maioritariamente devido a guerras, e as suas datas variam. Hoje, é fácil saber quando vai ser a próxima Oktoberfest. A festa começa no sábado depois do 15 de Setembro, ao meio-dia. Termina duas semanas mais tarde, no primeiro domingo de Outubro.

A passagem da Oktoberfest de Outubro para final de Setembro começou em 1872, e a justificação é simples. Os dias de Setembro são mais quentes (embora não tanto como em Portugal). Assim, as pessoas poderiam aproveitar melhor a festa.

Agora, 208 anos depois da primeira festa, também eu ali estava. No primeiro dia, foi impossível arranjar lugar numa das tendas. Acabámos por comer nas barraquinhas, enquanto observávamos a multidão a andar de um lado para o outro.

No domingo, iríamos acordar às 5h00 para visitar os Castelos Neuschwanstein e Hohenschwangau. Mais à noite regressaríamos, para jantar novamente nas barraquinhas e ver o ambiente nocturno. Segunda-feira, depois uma manhã passada na Residenz München, resolvemos tentar a nossa sorte e almoçar numa das tendas.

Durante a semana, o recinto está muito mais calmo. Temos espaço para andar, sem ter de pedir licença ou desviarmo-nos de alguém. As tendas têm muitos lugares livres.

Sentámo-nos na primeira que encontrámos e pedimos um litro de cerveja. Sim, um litro, não há tamanho menor. A pergunta que nos fizeram tinha pouco de pergunta e muito de afirmação: “E para beber? Uma cerveja, certo?”. Não tínhamos alternativa, era quase obrigatório.

Para a mesa, vieram duas Weißwurst, típicas da região da Baviera, 6 salsichas de Nürnberg e uma sopa de fígado. Bem alimentados, regressámos ao hotel para ir buscar as malas.

Até 7 de Outubro, muita cerveja ainda iria ser bebida. Mas só entre as 10h00 e as 22h30, claro. As tendas deixam de servir a essa hora, e à meia-noite o recinto encerra mesmo. Nos dias de semana, as portas fecham ainda mais cedo, às 23h30. Já alguém viu deixarem de servir sardinhas num Santo António às 22h30?

Sim, há as festas depois da festa, pelos bares da cidade, para quem a noite ainda está a começar. Mas o recinto oficial encerra cedo. Para nós, era altura de regressar a Portugal, onde festa que é festa dura pelo menos até às 2h00 da manhã.

Guia prático

Como chegar

Há voos directos de Lisboa para Munique, tanto pela TAP Air Portugal como pela Lufthansa. Duram perto de 3 horas. Do aeroporto Franz Josef Strauss para o centro da cidade, pode-se apanhar comboio ou autocarro.

Já em Munique, a Oktoberfest realiza-se na Theresienwiese. Eu fui a pé, mas há vários transportes perto, especialmente o comboio e o metro. Não aconselho que se leve carro, porque o estacionamento é muito limitado.

  • Comboio (S-Bahn) S1 ou S8; saída Hackerbrücke
  • Comboio (S-Bahn) S7 ou S20; saída Heimeranplatz e depois metro (U-Bahn) U4 ou U5; saída Theresienwiese
  • Metro (U-Bahn) U3 ou U6; saída Goetheplatz ou Poccistraße
  • Metro (U-Bahn) U4 ou U5; saída Theresienwiese ou Schwanthalerhöhe

Dicas

★ Leva apenas o essencial. Dependendo do segurança, mochilas com capacidade para mais de 3 litros não entram.
★ Para grupos, para jantar e fim-de-semana, o melhor é reservar uma mesa. As mesas esgotam meses antes da festa.
★ Ao almoço, nos dias de semana, é muito fácil encontrar mesas vazias, mesmo não tendo feito reserva.
★ A cerveja é cara. Em 2018, o preço passava dos 11€ o litro. E não há nada menor do que 1 litro.
★ Se queres vestir o traje típico, fica a saber que os preços podem ultrapassar os 200€. Tipicamente, os lederhosen são mais caros do que os dirndl. O supermercado Lidl tem conjuntos a 30€, mas esgotam depressa.

Informação útil

Site: Oktoberfest
Datas em 2018: De 22 de Setembro a 7 de Outubro
★ Datas em 2019: De 21 de Setembro a 6 de Outubro
Horário: Os horários são diferentes, conforme o dia e o local.
Horário das tendas
Dia da abertura: das 10h00 à meia-noite
De 2ª a 5ª-feira e domingo: das 10h00 às 23h30
6ª-feira: das 10h00 à meia-noite
Sábado: das 9h00 à meia-noite
Horário em que servem cerveja (e comida) nas tendas
Dia da abertura: das 12h00 às 22h30
De 2ª a 6ª-feira: das 10h00 às 22h30
Sábado e domingo: das 9h00 às 22h30
Horário do parque de diversões
Dia da abertura: das 12h00 à meia-noite
De 2ª a 5ª-feira: das 10h00 às 23h30
6ª-feira e sábado: das 10h00 à meia-noite
Domingo: das 10h00 às 23h30
Preço: entrada gratuita
Morada: Theresienwiese, München

Horários e preços à data de publicação deste artigo.

Alojamento

Primeiro que tudo, é importante dizer que o alojamento esgota muito rapidamente e os preços aumentam consideravelmente. Assim, o ideal é começar a procurar e reservar com cerca de um ano de antecedência.

Eu fiquei alojada no Hotel Demas City, a cerca de 10 minutos a pé de uma das entradas no recinto. Era dos mais baratos, e mesmo assim foi caro para o que costumo pagar. Encontrando-se perto do recinto e da estação de comboios, a nível de localização foi, sem dúvida, uma escolha acertada. Mas em Munique não faltam opções!

Alojamento em Munique

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