Depois de ver visitado os magníficos jardins e palácios de Peterhof, em São Petersburgo, surgiu em mim a vontade de conhecer Versalhes. Afinal de contas, quando Pedro, o Grande, mandou construir Peterhof, a sua inspiração foi exactamente o Palácio de Versalhes (Château de Versailles), em França.
Depois de ter estado nos dois, com um intervalo de 7 anos entre o primeiro e o segundo, posso dizer que, para mim, este é um daqueles casos em a “imitação” ultrapassa o original. Ainda assim, o Palácio de Versalhes é um local magnífico, que merece ser visitado com calma e sem grandes comparações.
Considerado Património Mundial pela UNESCO em 1979, Versalhes é um local intimamente ligado à história de França. Como 2300 aposentos e uma área de 800 hectares, este é um espaço altamente luxuoso e rico em detalhes. Vamos conhecer?

De uma cabana de caça a um Palácio luxuoso
Inicialmente, o Palácio de Versalhes não era mais do que uma simples cabana de caça, construída numa zona rural afastada de Paris, a pedido do Rei Louis XIII em 1623. Mais tarde, o Rei mandou erguer um pequeno palácio, construído entre 1631 e 1634, que serviu de base para o grande espaço que vemos hoje.
Na verdade, o nome Château de Versailles vem da sua localização rural. Durante o Renascimento, a palavra château (o correspondente a castelo, em português) era usada para designar palácios nas zonas rurais, enquanto que os palácios nos centros urbanos eram palais (palácio).
O filho de Louis XIII, o Rei Sol Louis XIV, foi o principal responsável pelas obras de expansão, que começaram em 1668, e por aqui instalar a corte e o poder político de França. Assim, o Palácio de Versalhes tornou-se morada oficial dos monarcas franceses de 1682 até 1789.


O deslumbrante interior do Palácio de Versalhes
Durante a visita ao Palácio de Versalhes, é possível percorrer uma infinidade de espaços extremamente ricos, tanto a nível arquitectural como de decoração. Em cada espaço, temos de observar tudo com atenção, desde a decoração do piso até ao magnífico trabalho no tecto. Vamos ver alguns desses espaços em mais detalhe.
Capela Real
A Capela Real que vemos atualmente no Palácio de Versalhes foi terminada em 1710, no final do reinado de Louis XIV. Foi a quinta e última capela construída no Palácio desde o reinado de Louis XIII, e foi dedicada a São Luís, o santo padroeiro do rei.
O tecto abobadado é dedicado à Santíssima Trindade. No centro está Deus Pai em sua Glória, de Antoine Coypel, na abside podemos ver a A Ressurreição, de Charles de La Fosse, e acima da tribuna real encontramos A Descida do Espírito Santo, de Jean Jouvenet.


Apartamento do Rei
Ao longo dos anos, Louis XIV foi fazendo diversos ajustes ao Apartamento do Rei, sendo que a mais importante ocorreu em 1701, quando o quarto de Luís XIV foi transferido para a sua localização actual, no centro da fachada do Pátio de Mármore.
Como em todas as residências reais, o Apartamento do Rei tem uma diversa sucessão de salas: Sala da Guarda, duas antecâmaras, uma câmara e um gabinete. O acesso a estas salas estava sujeito a uma hierarquia rígida. Para além dessas salas ficava o domínio privado do rei, onde ninguém poderia entrar sem ser convidado.

Apartamento da Rainha
O Apartamento da Rainha tem uma disposição idêntica ao Apartamento do Rei. A Rainha Maria Teresa, esposa de Louis XIV, foi a primeira pessoa a viver neste espaço, mas faleceu pouco tempo depois de se mudar, em 1683.
A disposição do primeiro andar do Palácio era perfeitamente simétrica, sendo a parte norte pertencente ao Rei e a parte sul à Rainha. No entanto, Louis XIV decidiu reservar todos os quartos ao redor do Pátio de Mármore para o seu apartamento.
Assim, o espaço da Rainha ficou limitado aos Apartamentos de Estado (que foram modificados por Marie Leszczyńska e, mais tarde, por Marie Antoinette) e a algumas salas mais pequenas para uso mais privado.

Galeria dos Espelhos
A Galeria dos Espalhos é, sem dúvida, a sala que mais impressiona no Palácio de Versalhes. Talvez por isso, é, também, a mais famosa. Mas a origem da sua construção é curiosa.
Este espaço foi construído para substituir um grande terraço desenhado pelo arquitecto Louis Le Vau, que dava para o jardim. O terraço situava-se originalmente entre os Apartamentos do Rei e os Apartamentos da Rainha. No entanto, a passagem pelo exterior era incómoda, pelo terraço se encontrar exposto às intempéries.
O sucessor de Le Vau, Jules Hardouin-Mansart, substituiu o terraço por uma grande galeria. As obras começaram em 1678 e terminaram em 1684. A instalação de 357 espelhos defronte das janelas criam um ambiente especialmente luminoso.
A Galeria dos Espelhos foi palco de festas da corte, bailes, recepções a embaixadores, e outros importantes momentos históricos, como a assinatura do Tratado de Versalhes em 1919.

Jardins de Versalhes, um passeio por entre fontes e estátuas
Os Jardins de Versalhes foram projectados pelo paisagista André Le Nôtr, seguindo o estilo formal, com distribuição padronizada de ruas e bosques, cercas vivas, flores, lagos, fontes e estátuas. Louis XIV mandou construir os Jardins em 1661, mas demoraram cerca de 40 anos a serem finalizados.
Claro reflexo da estética real francesa da época, os Jardins escondem quase 400 esculturas e mais de 1000 fontes, muitas delas representando o poder e força do Rei. A flora é abundante e variada, com laranjeiras, limoeiros, oliveiras, palmeiras, e muito mais. Existem pelo menos 15 pequenos bosques, outrora usados como salões ao ar livre.
Todo o percurso pelos Jardins reserva surpresas. No entanto, não é fácil percorrer todos os cantos e recantos desde espaço, devido à sua dimensão. Para facilitar a visita, podemos alugar um bicicleta. Se não conseguirmos ver tudo de uma só vez, podemos sempre voltar numa outra altura. A entrada nos Jardins é gratuita.

Palácios Trianon
Numa tentativa de obter algum descanso da etiqueta da corte, os Reis foram construíram espaços mais íntimos perto do Palácio principal. Junto ao Petit Parc, a propriedade de Trianon abriga os palácios Grand Trianon e Petit Trianon, bem como a Vila da Rainha e uma variedade de jardins ornamentais.
O Petit Trianon está bastante associado a Marie Antoinette, esposa de Louis XVI, que ali procurava regularmente refúgio. Pensada para momentos mais íntimos, esta quinta real tem magníficos jardins cuja diversidade lhe dão um encanto especial.

Versalhes como lugar central para a diplomacia
O Palácio de Versalhes continuou a ser local de destaque para a alta diplomacia durante o século XX. Foi aqui que foi assinado o Tratado de Versalhes em 1919, um tratado de paz assinado pelas potências europeias que marcou oficialmente o fim da Primeira Guerra Mundial.
Charles de Gaulle, general, político e estadista francês, utilizou o Grand Trianon como residência para os Chefes de Estado estrangeiros que estavam em visita a França. Criou, também um espaço presidencial.
No entanto, desde 1995 que o Palácio de Versalhes e a restante propriedade são considerados Estabelecimento Público, e podem ser visitados por qualquer pessoa.

Guia prático
Como chegar
De forma independente, existem duas formas de se chegar a Versalhes: de comboio ou de autocarro. Ambas são muito fáceis, embora haja diferenças na distância que é necessário percorrer a pé.
Para informação sobre horários e sobre o trajecto em si, podes consultar a página web da RATP (Régie Autonome des Transports Parisiens) ou instalar a aplicação Bonjour RATP (Android, iOS).
Vai cedo e conta ficar o dia todo por lá, porque o espaço é bastante grande e há muito a visitar.
Comboio
Para se chegar ao Palácio de Versalhes de comboio existem 3 opções:
- RER linha C para Versailles Château Rive Gauche. Faz parte do sistema de comboios regionais e pode-se apanhar no centro de Paris, incluíndo das estações Champs de Mars, Invalides, e Musée d’Orsay. Depois de se chegar ao destino, são cerca de 10 minutos a pé até ao Palácio. Recomendo a compra de bilhete de ida e volta, porque as filas nas máquinas para o regresso a Paris podem ser grandes.
- SNCF de Gare Montparnasse para Versailles Chantiers. Depois de se chegar ao destino, são cerca de 20 minutos a pé até ao Palácio.
- SNCF de Gare Saint Lazare para Versailles Rive Droite. Depois de se chegar ao destino, são cerca de 20 minutos a pé até ao Palácio.
Atenção: Os bilhetes T+ não podem ser usados para nenhum destes trajectos. Precisas de comprar um bilhetes para 4 zonas, ou então usar os passes (Navigo, Mobilis, ou Paris Visite).
Autocarro
De autocarro, a única opção que existe é o 171 da RATP, que parte de Pont de Sèvre (terminal da linha 9 do metro) e chega ao Palácio de Versalhes em cerca de 30 minutos, sem trânsito.
É a única opção que fica praticamente na entrada do Palácio, sem ser necessário andar a pé. Para além disso, os bilhetes T+ podem ser usados.
Informação útil
Site: Chateau VersaillesHorário: Todos os dias das 9h00 às 18h30. O Palácio fecha às segundas-feiras (horários detalhados)
Preço: a partir de 19,50€ (preços detalhados)
Morada: Place d’Armes, 78000 Versailles, France
Nota: Horários e preços à data de publicação deste artigo.
Alojamento
Paris tem imensos alojamentos por onde escolher, desde os tradicionais hotéis até apartamentos com vistas magníficas sobre a cidade. No entanto, os preços podem não ser convidativos, e por vezes é necessária alguma pesquisa (e antecedência) para encontrar bons locais a bons preços.
Esta era a minha terceira ida a Paris, e resolvi ficar mais afastada do centro, no Aparthotel Adagio access Colombes La Défense, num quarto com cozinha. Se procuras uma opção mais central, algumas opções interessantes são o Le Katorze Hôtel, ou o ibis Paris Bastille Opera. Uma opção mais em conta é o Auberge de Jeunesse HI Paris Yves Robert.
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