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Reflexões sobre Auschwitz e o turismo de excursão

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Em 2015 celebrava-se o 70º aniversário da libertação dos campos de concentração de Auschwitz e, um pouco por essa razão, a cidade de Cracóvia foi incluída no roteiro do Interrail.

As minhas motivações para conhecer Auschwitz eram claras: dou muito valor à história e considero que é extremamente importante conhecermos o passado, estarmos cara a cara com ele, para que este não fique esquecido. Só assim conseguimos evitar cometer os mesmos erros no futuro.

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Auschwitz não era o nome de um campo de concentração, mas sim o nome alemão dado a Oświęcim, a cidade em volta da qual os campos eram localizados. Cracóvia fica a cerca de 1 hora de distância de Oświęcim, pelo que é um bom local para se ter como base.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Auschwitz foi transformada num complexo constituído por três campos: Auschwitz I (campo de concentração principal e centro administrativo), Auschwitz II–Birkenau (campo de extermínio) e Auschwitz III–Monowitz. Para além destes três campos, existiam ainda 45 campos satélites. Eu queria ver com os meus próprios olhos os dois primeiros.

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Ao chegarmos a Cracóvia, vindos de Praga pelo comboio nocturno que liga as duas cidades, dirigimo-nos ao Flamingo Hostel para deixar as malas. O hostel tinha uma parceria com o operador turístico See Krakow, que realiza visitas a Auschwitz e às incríveis minas de sal de Wieliczka.

Nunca utilizo agências ou operadores turísticos nas minhas viagens, mas como tinham vagas para esse dia, resolvemos marcar. Talvez por estarmos cansados da viagem de comboio e de uma noite mal dormida, com a cérebro a funcionar a meio gás, a visita organizada parecia uma boa ideia.

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O transporte iria ser uma carrinha pequena, para poucas pessoas (factor que em muito influenciou a decisão), e um guia ia estar connosco durante todo o tempo. Também nos iam buscar à porta do hostel e, no final, deixar-nos-iam lá novamente. Vendo agora, quase dois anos depois, compreendo por que tomei esta decisão. Em teoria, parecia uma boa aposta.

Não tenho nenhum problema com visitas guiadas: quando o guia é bom, podemos aprender imenso e é uma excelente oportunidade para se conhecer mais a fundo a história de um local. Apesar de preferir não estar acompanhada por estranhos e poder fazer as coisas ao meu próprio ritmo, um grupo pequeno de pessoas é gerível. Infelizmente, não foi bem isso que aconteceu nesta ida a Auschwitz.

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Por volta das 11h00 um rapaz apareceu no hostel, mas apenas para nos mostrar o caminho até ao transporte, que estava estacionado a cerca de 10 minutos a pé do local onde nos encontrávamos. Essa não é a minha definição de porta-a-porta. A carrinha pequena transformou-se num autocarro bem grande, que estava com imensa gente. Só com isso já fiquei incrivelmente irritada.

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Como a viagem de Cracóvia até Oświęcim ainda demora algum tempo, chegámos a um estacionamento perto dos campos de concentração já próximo da hora de almoço.

As guias (eram mais do que uma) disseram que tínhamos meia hora para comer alguma coisa. Sim, o estacionamento era mesmo ao lado de uma zona de restauração, que está ali só para fazer dinheiro com os turistas. Isto também me chateou profundamente, porque “pausa para almoço” não estava na descrição da visita, para além de que era uma perda de tempo (confesso que não estava com fome).

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Depois de uma das guias ter ido comprar os bilhetes, fomos divididos em grupos mais pequenos, com base no idioma no qual queríamos fazer a visita. Eu pensava que seria alguém da See Krakow a guiar-nos, mas afinal teria de ser um guia do próprio campo. Um grupo que ia fazer a visita em polaco entrou quase imediatamente e nós, que íamos fazer a visita em inglês, ficámos a aguardar. E bem que aguardámos, e aguardámos… O tempo de espera já estava a chegar perto do inadmissível.

Até que uma das guias arranjou um guia do campo e lá iniciámos a visita. E aqui aconteceu a terceira coisa que me irritou: o guia não falava inglês! Ele falava em polaco, e a guia da See Krakow traduzia para inglês! Eu nem queria acreditar…

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A visita em si foi a maior desilusão de todas. Sim, estive em Auschwitz e em Auschwitz-Birkenau, mas não vi tudo o que queria ver, e os guias não me deram tempo para absorver o local nem para prestar homenagem às pessoas que ali morreram. Achei a visita incrivelmente curta e bem mais rápida do que gostaria. Quando dei por mim, já tinha terminado e não podia ver mais nada ao meu ritmo, porque o autocarro ia partir de volta para Cracóvia.

Não me interpretes mal, Auschwitz impressionou-me muito e não me deixou, de todo, indiferente. Foi um autêntico murro no estômago e mesmo agora, ao escrever isto, sinto um nó na garganta. Mas a verdade é que quero voltar, preciso de me sentar lá em silêncio, sem pressas nem correrias, a reflectir sobre este passado não tão distante.

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Cometi dois erros crassos na minha ida a Auschwitz: 1) ter utilizado um operador turístico em vez de ter ido de forma independente, como sempre fiz; e 2) não ter abandonado o autocarro para ficar mais tempo em Auschwitz-Birkenau por minha própria conta e risco. Depois logo arranjaria transporte de volta, há outras formas de ligação entre as duas cidades.

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Esta não será a última vez que escrevo sobre Auschwitz. Apesar de tudo, é um dos locais que mais me marcou até hoje, e merece um artigo inteiramente dedicado a ele. No entanto, queria partilhar a minha experiência com a See Krakow. Eu já o sabia, mas esta visita só serviu para confirmar que este tipo de turismo de excursão não é para mim. Não digo que não é válido, nem que não o deves fazer, somos todos diferentes e cada um tem o seu estilo de viagens. Mas este não é o meu.

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Acredito que outros operadores turísticos tenham mais profissionalismo e, para ser justa, até a própria See Krakow pode ter mudado imenso nos últimos dois anos. Não quero, de forma alguma, desvalorizar as excursões, têm o seu espaço e o seu grupo alvo bem definido. No entanto, mesmo se tiverem um serviço extraordinário, excursões não são o que procuro. Não é assim que gosto de conhecer o mundo.

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