Sugerir roteiros de viagem é sempre difícil, porque cada pessoa tem ritmos, interesses e orçamentos diferentes. Como é natural, não vi tudo o que Moscovo tinha para oferecer, e apanhei um dia de chuva intensa, que fez com que visse menos coisas do que gostaria. Assim, encara este roteiro da cidade – que representa o percurso que eu fiz – como um ponto de partida para organizares o teu próprio itinerário, de acordo com os teus gostos, orçamento, e tempo disponível. Cheguei a Moscovo às 7h19, vinda do comboio nocturno que apanhei em São Petersburgo, fui directa para o Sputnik Hostel & Personal Space deixar as malas e comecei logo a explorar esta cidade. Assim, estes 4 dias que aqui apresento foram os dias completos que estive em Moscovo.
(Não viajei sozinha, pelo que o texto está no plural)
Resumo do roteiro
- Dia 1: Praça das Catedrais do Kremlin, Praça Vermelha, [almoço], Catedral de Kazan, Catedral de São Basílio
- Dia 2: Palácio do Arsenal do Kremlin, Museu Histórico do Estado da Rússia, [almoço], Catedral de Cristo Salvador, Parque Gorky
- Dia 3: Estações de metro
- Dia 4: Mosteiro e cemitério Novodevichy, Universidade Estatal de Moscovo, [almoço], Mausoléu de Lenin, Mercado Izmailovsky, Parque dos Cosmonautas, Centro Panrusso de Exposições (VDNKh)
Roteiro completo
Dia 1
Quando saí do comboio nem queria acreditar: estava em Moscovo novamente, 3 anos depois da minha primeira visita à cidade. Será que a capital russa tinha mudado muito? A paixão que senti por ela em 2013 iria manter-se? Ou seria uma completa desilusão depois de todo o esplendor que presenciei em São Petersburgo? As dúvidas eram muitas, e questões como estas apareciam na minha mente a todo o instante. Mas assim que deixámos as malas no hostel e começámos a (breve) caminhada em direcção ao Kremlin, todas as incertezas acabaram: Moscovo mantinha o seu encanto e o meu amor por esta cidade continuava vivo.
Decidimos começar este primeiro dia em Moscovo com uma visita às catedrais do Kremlin. Para o meu companheiro de viagem, aquele espaço era uma novidade. Para mim, foi o reviver de um passado não tão distante. A Praça das Catedrais (Sobornaya Ploshchad, Соборная площадь) encontra-se no centro do Kremlin e deve o seu nome às 3 catedrais que por lá se encontram: Catedral da Dormição, Catedral do Arcanjo São Miguel, e Catedral da Anunciação. Vimos ainda o Campanário de Ivan III e o Sino do Czar, o maior sino do mundo (pesa mais de 200 toneladas!).
Da Praça das Catedrais pode-se sair directamente para a Praça Vermelha e o resto do nosso dia foi passado por aí. Fomos almoçar ao centro comercial Gum (ГУМ) – cujo edifício é lindíssimo – e seguimos para a Catedral de Kazan (Sobor Kazanskiy, собор Казанский), uma igreja relativamente pequena que pode passar despercebida aos olhares menos atentos. Aqui, e ao contrário do que acontece na Catedral de São Basílio, há missas e as pessoas vêm demonstrar a sua fé, por isso a entrada é gratuita. Como se trata de uma igreja ortodoxa, as mulheres devem entrar com um lenço à volta da cabeça, a cobrir o cabelo. Por uma questão de respeito, coloquei o meu lenço, mesmo que não me tivessem explicitamente pedido para o fazer.
O nosso último destino foi a Catedral de São Basílio (Sobor Vasiliya Blazhennogo, Собор Василия Блаженногo), um verdadeiro ícone na Praça Vermelha. Penso que não minto quando afirmo que as cúpulas desta catedral encantam qualquer um. Eu, pelo menos, fiquei hipnotizada com as suas cores vivas e com as diferentes texturas: cada cúpula é única. O seu interior não tem a nave ampla a que estamos acostumados: a catedral está repleta de pequenas galerias e capelas, parecendo um autêntico labirinto.
Descobre mais sobre a Catedral de São Basílio, incluindo preços e como chegar
Dia 2
O Palácio do Arsenal do Kremlin (Oruzheynaya Palata, Оружейная палата) foi uma novidade para mim. Não tinha visitado este espaço em 2013, porque as pessoas que estavam comigo na altura não tinham interesse. Um erro, na minha opinião. Apesar do nome, não só de armas históricas vive este espaço. Insígnias reais, peças de artesanato, riquíssimas peças de joalharia, relíquias dos czares e gemas preciosas dão um brilho especial a este palácio.
Deslumbrados com a esplêndida colecção do Palácio do Arsenal, seguimos para o Museu Histórico do Estado (Gosudarstvenny Istoricheskiy Muzyey,Государственный исторический музей), que também ainda não tinha tido o prazer de conhecer. Este é o local ideal para quem quiser saber um pouco mais sobre a história deste incrível país que é a Rússia: as exposições que aqui se encontram vão desde as tribos pré-históricas que habitaram o território russo, até ao período da dinastia Romanov. Para os amantes de história como eu, é um museu que não deve ficar de fora.
Aproveitando para percorrer as ruas da cidade, seguimos caminho até à Catedral de Cristo Salvador (Khrám Khristá Spasítelya, Xpáм Xриcтá Cпаcи́теля), também conhecida como Catedral de Cristo Redentor. O que vemos hoje em dia é uma reconstrução, já que a catedral original foi destruída no final de 1931. Quando a vi pela primeira vez, fiquei incrivelmente impressionada, pois é bem maior do que estava a contar, e as suas cúpulas douradas têm um efeito hipnotizante.
Como estava bom tempo, aproveitámos para caminhar mais um pouco, passando pelo monumento de Pedro, o Grande, e terminando no Parque Gorky (Park Gorkogo, Парк Горького). Com 120 hectares, há imensas actividades disponíveis e estão sempre coisas interessantes a acontecer. O parque convidou-nos a ficar, a percorrer os seus caminhos, e a conhecer a natureza que por lá habita. Até que o sol desapareceu, dando lugar a uma chuva persistente, que nos obrigou a regressar.
Dia 3
O dia anterior tinha terminado com chuva, e os céus estiveram em lágrimas durante toda a noite. A chuva continuava quando saímos do hostel na manhã do terceiro dia, mas não íamos deixar que umas gotas de água nos desanimassem. Ou assim pensava eu… Mal saímos da estação de metro junto ao cemitério e mosteiro Novodevichy (que era o nosso destino para aquela manhã), a chuva caiu em força. As ruas não tinham sarjetas e os céus estavam impiedosos. Galgando pelas ruas, a água parecia um rio em fúria.
Estava na altura de admitir a derrota e pensar em alternativas. E em boa hora surgiu a ideia: visitar as estações de metro de Moscovo (Moskovskiy Metropoliten, Московский метрополитен), que são conhecidas como palácios do povo. Para mim, cada estação é especial, e não consigo eleger uma preferida. Parece que estamos dentro de um museu ou de um palácio, onde azulejos, mosaicos, pinturas e esculturas falam connosco e nos contam uma história: a história de uma Rússia soviética.
Descobre mais sobre o metro de Moscovo
Dia 4
Se no dia anterior a chuva não nos tinha deixado visitar o Cemitério Novodevichy (Novodevichy Kladbishche, Нoвoдéвичье клáдбище), junto ao mosteiro com o mesmo nome, neste último dia pela capital russa o sol agraciou-nos com a sua presença. Assim, saindo um pouco do típico roteiro turístico em Moscovo, fomos conhecer o cemitério onde se encontram sepulturas de escritores, músicos e poetas russos, assim como políticos, cientistas e heróis de guerra. Todo o espaço se assemelha a um parque, com muitas zonas verdes e grandes monumentos e esculturas. O mosteiro, esse, estava em obras e não podia ser visitado.
Daqui, fomos até à Universidade Estatal de Moscovo (Moskovskiy Gosudarstvennyy Universitet, Московский государственный университет), cujo edifício principal é uma das Sete Irmãs. Também conhecidos como os aranha-céus de Stalin, as Sete Irmãs são 7 edifícios semelhantes, construídos entre 1947 e 1953, como forma de celebração pela vitória na Segunda Guerra Mundial. São prédios extremamente imponentes, num estilo muito próprio.
Enquanto andávamos pelo espaço da universidade, veio-nos à memória que ainda não tínhamos ido ao Mausoléu de Lenin (Mavzolei Lenina, Мавзолей Ленина). Tínhamos visto tudo o que a Praça Vermelha nos podia oferecer, excepto Lenin dentro de uma tumba de vidro! Era agora ou teríamos de esperar por uma nova visita a Moscovo, porque o mausoléu fechava relativamente cedo. Pusemo-nos a caminho, esperámos na fila, e entrámos. Lá dentro, a luz é praticamente inexistente e não se pode tirar fotografias. O silêncio impera, não podemos parar, e os guardas mandam seguir caminho se alguém arrastar o passo. Lenin, esse, pareceu-me um boneco de cera.
Queríamos comprar algumas lembranças, e o Mercado Izmailovsky (Izmaylovskiy Rynok, Измайловский Pынок) é o lugar ideal para o fazer. Com preços mais acessíveis do que no resto da cidade, este mercado conta ainda com artigos em segunda mão e uma decoração que só por si já merece uma visita.
Havendo ainda algum tempo disponível, dirigimo-nos ao Parque dos Cosmonautas para ver o Monumento aos Conquistadores do Cosmos (Monument Pokoritelyam Kosmosa, Монумент Покорителям космоса). Todo o parque foi construído para celebrar as conquistas do povo soviético na exploração espacial. Sob a estrutura do monumento encontra-se o Museu Memorial da Cosmonáutica (Memorial’nyy Muzey Kosmonavtiki, Мемориальный музей космонавтики).
Bem ali ao lado, temos o parque VDNKh (ВДНХ), também conhecido como Centro Panrusso de Exposições. Neste parque, para além de jardins e fontes com estátuas bonitas, existem cerca de 400 estruturas diferentes, que servem como espaços culturais, de exposições, e pequenos museus. O que mais gosto neste parque são os aviões, helicópteros e foguetões que por lá se encontram, ao ar livre.
Regressámos ao hostel para ir buscar as mochilas e a comida que entretanto compráramos. Iríamos passar os 4 dias seguintes num comboio, atravessando a Rússia em direcção à região da Sibéria, e percorrendo diversos fusos horários. Irkutsk e o lago Baikal esperavam por nós.
Catarina, tenho seguido os teus artigos sobre Moscovo e gostei muito de ler este roteiro! Concordo contigo, por vezes é um pouco “arriscado” partilhar roteiros porque pode levar a que algumas pessoas o queiram seguir à letra quando na realidade deve servir de ponto de partida e inspiração para a criação do nosso próprio itinerário de viagem…
Nunca fui à Rússia, mas confesso que um dia gostava de visitar o país e tenho a certeza que quando esse dia chegar me irei lembrar dos teus artigos!
Ainda bem que gostaste! Sim, é isso mesmo, espero que estes meus roteiros sejam vistos como pontos de partida, e não como algo que se deve seguir passo-a-passo. Até porque toda a gente tem gostos diferentes, não é? E o que queremos ver numa cidade pode ser completamente diferente… Espero que visites a Rússia um dia, já o disse imensas vezes mas é mesmo um país fantástico. Eu gosto imenso!
Olá Catarina! Que posso eu dizer? Que adorei! É sempre um prazer recordar Moscovo. Gosto de saber o que as outras pessoas viram num local em que já estive e perceber que nem todos visitamos os mesmos locais nem os vemos da mesma forma. Fiquei com pena de não ter visitado 3 sítios que referes: Parque dos Cosmonautas, Parque VDNKh e o cemitério. Mas o tempo que lá estive também não dava para mais, vai ficar para a próxima 🙂 Beijinhos *
Olá Sandra! Que bom, fico mesmo contente que tenhas gostado! Sim, acho que cada pessoa tem uma interpretação muito própria dos sítios por onde passou, e as escolhas também são diferentes. Olha, eu tenho pena de não ter ido ao Museu da História do GULAG, ao qual tu foste… Mas é como dizes, fica para a próxima! De certeza que regressarei a Moscovo 🙂
És tão organizadinha a explicar roteiros! E apesar de ser sempre arriscado, a verdade é que são só uma base para outros se orientarem. Eu vejo sempre roteiros em blogues de viagem e utilizo-os para me inspirar, ainda que depois possa fazer algo um pouco diferente 🙂 E ainda por cima tiveste o azar de apanhar o dia de chuva, que acaba com qualquer plano. Olha, a mim o roteiro parece-me espectacular (e o hostel em que ficaste é mesmo giro, não tens uma review dele aí preparada?).
Oh, muito obrigada! Também vejo os roteiros assim, como uma fonte de inspiração. Depois cada um planeia conforme os seus gostos. O problema da chuva é que não eram apenas uns aguaceiros, era mesmo uma carga de água incrível, e as ruas tinham-se transformado em autênticos rios… Mas pronto, temos de nos saber adaptar. É uma das coisas que as viagens nos ensinam, a sermos flexíveis! (Sim, tenho uma opinião do hostel programada para daqui a 2 semanas 🙂 )
Belas fotos Catarina 🙂 no ano passado tive o prazer de conhecer Moscovo, chegando igualmente a partir de uma viagem de comboio de São Petersburgo! Apesar da fama da cidade de Pedro, o Grande, confesso que fiquei mais surpreendido de Moscovo. Achei a cidade com tanta vida, tanta gente, cada bairro com uma personalidade própria. Em suma, espero um dia voltar e ficar mais tempo!! abraço e continuação de boas viagens! PedroL
Olá Pedro! Muito obrigada 🙂 Sim, Moscovo tem um ambiente muito especial! Espero que tenhas oportunidades de regressar à cidade, e aproveitar cada bocadinho. Apesar de já lá ter estado duas vezes, também quero regressar. Tenho um fascínio muito grande pela Rússia. Boas viagens!
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[…] tens a acompanhado a minha aventura pelo transiberiano, preciso de contextualizar um pouco. Desde Moscovo que eu estava com uma tosse irritante, que não me tinha deixado dormir tranquila uma única noite […]
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Olá Catarina,
Daqui a uns dias embarco para Moscovo para fazer o Transiberiano ( ou talvez seja melhor dizer Transmongol) e apesar de ir numa viagem organizada por agência, iniciei uma pesquisa que me levou ao seu blogue. Estou a adorar lê-lo e já tirei umas notas para o caso de o guia não nos levar a alguns dos lugares que aqui refere e que me despertam curiosidade. Obrigada e continue a viajar e a descrever tão bem, os lugares que visita. Bjinhos
Olá Rogélia, bem-vinda! Fico muito contente que esteja a gostar deste espaço 😀
Espero que a viagem corra bem e que o guia lhe mostre todos estes lugares e ainda mais. Sem dúvida que o transmongol é uma experiência incrível! Rússia, Mongólia e China são 3 países com uma cultura bem distinta, e é muito interessante observar essas diferenças ao longo do trajecto. Boas descobertas!
Eu já estive quatro dias em Moscovo. Considero, hoje, que, possivelmente, nunca mais irei a esta cidade. Para mim, foi encantadora. Gostei muito. O itinerário que adotei foi muito parecido com o da Catarina. Há algumas diferenças entre eles, mas não são muito significativas. Não estive no cemitério de Novodevichy e no Parque dos Cosmonautas, mas, em contrapartida, estive em outros locais, dos quais cito, o Parque Alexandre III, onde se encontra , entre outras coisas, o soldado desconhecido. Obrigado pela sua partilha Catarina. Um abraço.
Sem dúvida, Moscovo é uma cidade encantadora! É natural que existam semelhanças e algumas diferentes, considero os itinerários algo de muito pessoal, que vai depender de vários factores, como o tempo disponível, os interesses de cada um e, claro, o orçamento. Mas há sempre lugares incontornáveis, não há? Como o Kremlin, por exemplo 🙂 Obrigada pelo comentário!