Sabias que por Portugal costumamos falar em transiberiano, enquanto que no Brasil se utiliza mais o nome no feminino: transiberiana? E existe uma explicação. O transiberiano é uma rede de caminhos de ferro que faz a ligação entre diferentes cidades do vasto país que é a Rússia, e que a certa altura se ramifica para percorrer a Mongólia e a China. É a rota ou a linha ferroviária transiberiana. Em Portugal, falamos em caminho de ferro transiberiano. Dessa ferrovia fazem parte três rotas diferentes: o transiberiano clássico, o transmongol, e o transmanchuriano. Queres saber mais sobre estes caminhos? Então esta mensagem é para ti.
Nota: Escrevi os nomes de cidades e locais em russo, mongol e mandarim. Coloquei a tradução em português, mas o idioma local irá aparecer primeiro, quando aparecer pela primeira vez. No caso do russo e do mongol, primeiro aparece em alfabeto cirílico e depois a correspondente transliteração. No caso do mandarim, primeiro aparece em caracteres chineses (hànzì) e depois em pīnyīn. Porquê? É mais fácil de identificar nas placas, e porque gosto de respeitar os nomes locais.
Em baixo podes ver as três rotas. O transiberiano clássico está marcado a vermelho, o transmongol a verde, e o transmanchuriano a azul. Todas as rotas partem ou chegam a Москва (Moskva, Moscovo), sendo possível fazer o trajecto nas duas direcções: de ocidente para oriente ou vice-versa.
Transiberiano
A rota tradicional não sai da Rússia e percorre toda a sibéria, indo de Москва (Moskva, Moscovo) até Владивосток (Vladivostok), com vista para o oceano Pacífico. Demora-se entre 6 a 7 dias a fazer uma viagem completa, percorrendo uma distância de quase 9300 quilómetros. Sim, uma semana dentro do mesmo comboio, sem trocas. A construção da linha ocorreu de 1891 até 1916, sendo que a sua electrificação foi finalizada em 2002. Cerca de 30% das exportações russas viajam por aqui, e muitas famílias russas utilizam este trecho para viagens domésticas.
Existem vários comboios que fazem este trajecto, sendo que uns param em mais estações do que outros, e as cidades onde param pode variar. Não há nenhum comboio directo (isto é, sem paragens) entre Moscovo e Vladivostok, mas a ideia do transiberiano é mesmo essa: ir saindo do comboio, visitar diferentes cidades, apanhar outro comboio e continuar o caminho. As cidades mais comuns são Ни́жний Но́вгород (Nizhny Nóvgorod), Пермь (Perm), Eкатеринбург (Ekaterinburg, Ecaterimburgo), Омск (Omsk), Новосибирск (Novosibirsk), Красноя́рск (Krasnoyarsk), Ирку́тск (Irkutsk), Улaн-Удэ (Ulan-Ude), Чита (Chita) e Хабаровск (Khabarovsk).
Transmongol
O transmongol coincide com o transiberiano clássico até à cidade de Улaн-Удэ (Ulan-Ude), na margem oriental do óзеро Байка́л (ozera Baykal, lago Baikal). Daqui, deriva para sul e atravessa tanto a Mongólia como a China, terminando em 北京 (Běijīng, Pequim). A linha foi terminada por volta de 1950. Foi esta a rota que eu escolhi porque me permitia, numa só viagem, conhecer três países diferentes. Em vez de ter começado em Moscovo, acrescentei ainda Санкт-Петербу́рг (Sankt-Peterburg, São Petersburgo) ao trajecto.
Tal como no caso do transiberiano clássico, existem vários comboios que fazem este trajecto. As cidades por onde passam, depois de Ulan-Ude, são На́ушки (Naushki), Сүхбаатар (Sühbaatar, Sükhbaatar), Улаанбаатар (Ulaanbaatar, Ulan Bator), Замын-Үүд (Zamyn-Üüd, Zamiin Uud), 二 (Èrlián, Erlian) e 大同 (Dàtóng, Datong).
Transmanchuriano
O transmanchuriano coincide com o transiberiano clássico até Чита (Chita). Também tem Pequim como destino final, mas não passa pela Mongólia. Esta linha foi construída por volta de 1900, e pareceu-me a menos interessante. Não queria, de todo, perder a oportunidade de visitar a Mongólia.
Tal como no caso do transiberiano clássico e do transmongol, existem vários comboios que fazem este trajecto. As cidades por onde passam, depois de Ulan-Ude, são Забайка́льск (Zabaykalsk, Zabaikalsk), 洲里 (Mǎnzhōulǐ, Manzhouli) e 哈 (Hā’ěrbīn, Harbin).
Outras rotas
Uma quarta rota foi terminada em 1991: a linha Baikal-Amur, também conhecida pelas suas iniciais BAM (Baikal-Amur Magistral, em inglês Baikal-Amur Mainline). Este trajecto deriva do transiberiano clássico antes de chegar à cidade de Irkutsk. Dirige-se na mesma para o oceano Pacífico, mas a linha foi construída mais a norte, passando por cima do lago Baikal, em vez de passar por baixo. A rota foi construída com a ideia de ser uma alternativa mais segura, uma vez que o transiberiano é considerado vulnerável devido à proximidade com a China.
E para ti, qual destas rotas te parece a mais interessante?
Excelente post! Confesso que esta é daquelas linhas que adorava percorrer – não sei é se tenho um espírito aventureiro q.b. para uma viagem destas ahah 🙂 mas pelo que contas, a viagem que tu fizeste parece ser mesmo a opção mais completa!
Jiji
Obrigada Jiji! Acho que todos nós temos um bocadinho de espírito aventureiro, mesmo que esteja escondido ? Devias experimentar, é uma viagem incrível!
Não sabia dessas diferenças de rotas. Com certeza gostaria de fazer a transiberiana (no bom português brasileiro rs). Fico imaginando passar 7 dias inteiros dentro do trem sem sair. Mas a paisagem já deve valer por todo o passeio.
A paisagem é maravilhosa, e vai mudando tanto ao longo do caminho! Podes sempre ir saindo e visitar as cidades, há vários trens por semana – alguns não vão para Vladivostok, mas vão para outras cidades na rota ?
Não conhecia as diferentes rotas e o post deixou tudo bem explícito 🙂 Eu faria sem dúvida o Transmongol (era aliás a rota que associava à ideia de transiberiano). Mas como implica muito tempo de comboio, ainda não está bem nos meus planos próximos – ainda que eu facilmente altere os meus "próximos destinos", conforme o espírito em que estou haha
Aonde (não) estou
É uma rota que se pode fazer em 2 semanas, mas não aconselho, de todo, ter apenas esses dias. Há tanta coisa interessante para se ver pelo caminho, sabes? Se pudesse, teria feito em mais de um mês… Acho que o transmongol é das experiências mais ricas que se pode ter, tanto a nível de diversidade da paisagem como nas diferenças culturais.
Viva,
Bem que grande artigo, muitos parabens, tenho que vir ler mais artigos ao teu blog com mais calma.
Muitos parabens 😉
Bjs
Muito obrigada Fiacha! Espero ver-te por aqui mais vezes ?
"E para ti, qual destas rotas te parece a mais interessante?" Erm…. todas?… Tenho mesmo que escolher? 😛 A sério, se pudesse e tivesse tempo (e dinheiro, já agora), fazia-as todas! A experiência de percorrer todas estas rotas deve ser no mínimo inesquecível.
Adorei a forma como organizaste este artigo, Catarina, está simplesmente excelente! 😀
Joan of July
Ahah, sem dúvida que é uma escolha difícil! Claro que dá para fazer todas as rotas (eu ainda quero voltar e fazer o transiberiano clássico), mas é necessário algum tempo – mais do que dinheiro, na realidade, mas irei falar sobre isso em breve ?
Muito obrigada, mesmo! Fico tão contente que tenhas gostado ?
oi Catarina… eu já tinha lido sobre as diferenças das linhas, muito superficialmente, quando estava buscando bilhetes para a transiberiana, mas aqui está tudo tão detalhadinho, que se um dia fizer qualquer uma das rotas, já sei onde buscar as informações necessárias.
Se achei os dois trechos que fiz: (Moscou – Peters e Omsk – Tomsk) experiências super interessantes, pois os trens eram completamente diferentes, fico imaginando fazer uma rota maior!
Quero ler mais sobre sua experiência! 🙂
beijos Ana
Espero que seja útil para uma próxima viagem 🙂
Irei escrever mais sobre o transiberiano, tenho algumas coisas a caminho! Preciso só de tempo 😛
Beijos
[…] prepara uma viagem pelo caminho de ferro transiberiano, a primeira coisa a fazer é decidir se se quer fazer o transiberiano clássico, o transmongol ou o transmanchuriano. Depois desta decisão estar tomada, e se queres tratar de tudo de forma independente (como eu […]
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