Pouco passava das 7h quando saí do hostel. Queria fazer 2 percursos pedestres naquele dia, e tinha de aproveitar cada minuto disponível. Na altura ainda não sabia, mas tinha escolhido o melhor dia para os fazer.
O tempo não tinha dado tréguas nos dias anteriores, e os dias seguintes seriam pautados por um ambiente muito encoberto.
A neblina que teimava em cobrir os céus, limitando, em muito, a visão, não era neblina. Era fumo. Fortes incêndios faziam-se sentir na província da British Columbia. Banff situa-se em Alberta, mas a British Columbia é já ali ao lado.
O verão tinha sido duro para estas duas províncias canadianas. Vários fogos decorriam em simultâneo, e eram extremamente difíceis de vencer. Quase 2000 incêndios consumiram 971 103 hectares de terreno e floresta.
Naquele dia, no entanto, algo aconteceu. Não sei se foi o vento que ajudou, ou se alguns incêndios foram momentaneamente controlados. Mas a verdade é que foi o único dia, em toda a semana, em que o céu ficou limpo e as montanhas ficaram visíveis.
O primeiro trilho do dia seria o Tunnel Mountain Trail. Iria subir a montanha que dá o nome ao percurso. Tunnel Mountain… Quer dizer que há um túnel que atravessa a montanha? Nem por isso.
Em 1882, estava em estudo a construção da Canadian Pacific Railway, a linha de comboio que iria ligar uma ponta à outra do Canadá. Na altura, houve uma proposta para que fosse construído um túnel na montanha, por onde a linha passaria.
Tal empreendimento iria atrasar a construção da linha em mais de um ano, e seria bastante mais dispendioso! Assim, o projecto acabou por ser abandonado, e a linha de comboio foi construída a norte da montanha. O nome, esse, ficou até hoje. Tunnel Mountain, mas sem túnel.
O trilho até ao topo é curto, pouco passa dos 2 quilómetros. Só que são 2 quilómetros sempre a subir, com alguma inclinação pelo caminho. E depois é necessário voltar.
Dei um gole de água, apertei a mochila ao peito, verifiquei os atacadores. Estava pronta para vencer a montanha. No parque de estacionamento ali ao lado, um casal mais velho preparava-se para fazer o mesmo.
Os avisos sobre a existência de ursos deixavam algumas pessoas sem coragem para percorrer o caminho. Os papéis diziam claramente que os ursos não atacariam sem motivo, mas que não deviam ser apanhados de surpresa. Por isso, devia-se falar ou fazer notar a nossa presença de algum forma. Assim, os ursos saberiam que não estavam sozinhos.
Segui os conselhos e, ao longo do trajecto, fui fazendo algum barulho com os pés. De vez em quando ia falando sozinha, em voz alta. Se alguém passasse por mim, iria pensar que tinha perdido a cabeça.
Àquela hora da manhã, no entanto, não havia ninguém a vir na direcção contrária. A percorrer o caminho, só mesmo o casal que deixei no parque de estacionamento.
Um pouco por todo o lado, via as bagas preferidas dos ursos. Os ramos das plantas estavam intactos. Era a prova de que eles (ainda) não tinham passado por ali. Os esquilos, no entanto, comiam vorazmente as bagas. Segui caminho a cantarolar.
A manhã estava fresca, mas rapidamente guardei o casaco com o qual tinha saído. O corpo aquecera bastante logo nos passos iniciais da caminhada.
Ao fim dos primeiros 500 metros, há um segundo parque de estacionamento. Para continuar o percurso, é necessário atravessar a estrada. Este pedaço de alcatrão retira o encanto que o caminho estava a ter. Mas rapidamente se entra novamente na montanha, e ficamos rodeados de verde pela segunda vez.
Aos zigue-zagues, a montanha conquista-se aos poucos. Queria tirar fotografias praticamente a cada passo, e levei o meu tempo a subir. Com calma, sem pressas. Aproveitando a mistura do agressivo da rocha com o acolhedor das árvores. Pelo caminho, Banff ia-se tornando pequena, cada vez mais pequena.
Do cume da Tunnel Mountain, percebi que Banff é, na realidade, um vale. Apesar de se encontrar a 1400 metros de altitude, a cidade está rodeada por montanhas ainda mais altas do que ela.
Sentei-me tranquilamente a observar a paisagem, quando fui interrompida por um casal. Eram franceses, de Nice. Estavam a percorrer o Canadá, depois de terem feito uma viagem pela Europa. Lisboa tinha-os conquistado, assim como Coimbra.
Comi uma fruta e uma barra de cereais que tinha levado. Era altura de descer. Pelo caminho, encontrei o casal que tinha deixado no parque de estacionamento. Dissemos olá, dei-lhes força. Estavam quase a chegar ao topo.
A minha descida, ao contrário da subida, foi muito rápida. Quase que corria pela montanha abaixo. O dia ainda não ia a meio, mas o Hoodoos Trail aguardava por mim.
Guia prático
Como chegar
Banff não tem aeroporto. A cidade mais próxima com aeroporto internacional é Calgary. Há autocarros de Calgary para Banff todos os dias, de hora a hora. A viagem dura 2 horas. Os bilhetes são caros, mas fica consideravelmente mais barato do que ir de táxi. A empresa que eu utilizei foi a Banff Airporter. Gostei muito do serviço.
Também é possível alugar um carro em Calgary. Para visitar tudo o que o Parque Nacional de Banff tem para oferecer, esta é mesmo a melhor opção. Até porque alguns dos lagos mais bonitos são apenas acessíveis de carro, sendo que não há nenhum transporte público que vá até lá.
O início principal do Tunnel Mountain Trail fica na St. Julien Road, perto do Banff Centre for Arts and Creativity. Do centro de Banff, há várias placas a indicar o início do trilho. A entrada secundária, um pouco mais acima, fica na Tunnel Mountain Drive. Essa estrada, no entanto, está fechada para veículos durante o inverno.
Dicas
★ Mesmo no verão, leva roupa quente. Banff encontra-se a 1400 metros de altitude e apresenta um clima subárctico. A diferença entre as temperaturas mínima e máxima é grande. Em Agosto, a mínima ronda os 7ºC e a máxima os 22ºC.
★ Devido ao clima, é possível que fiques com os lábios e a garganta extremamente secos. Leva batom ou creme para os lábios e mantém-te hidratado.
★ Leva roupa e calçado confortáveis, de preferência de caminhada.
★ Veste-te em camadas. No início pode estar frio, mas vais aquecer com a caminhada.
★ Não te esqueças de levar água e comida. Naturalmente, não há caixotes do lixo por ali. Acho que não preciso de dizer, mas se a embalagem foi contigo, também volta contigo, não é?
Informação útil
★ Dificuldade: Baixa (e é um percurso muito popular)
★ Tipo de percurso: Linear
★ Extensão: 4,6 quilómetros (ida e volta)
★ Ganho de elevação: 240 metros
★ Tempo médio: 1h00/1h30 (ida e volta)
★ Percurso sinalizado
Mapa do percurso
Alojamento
Aquando da minha estadia em Banff, fiquei alojada no Banff International Hostel. Fiquei num quarto para 9 pessoas, em que 6 são beliches num primeiro andar, e depois há mais 3 camas num mezanino. A casa-de-banho é partilhada e, se alguém estiver a tomar banho, não é possível usar a sanita. Pareceu-me pouco para tanta gente. O pequeno-almoço está incluído. Podia estar mais a meio da Banff Avenue, mas a localização é boa.
A principal vantagem? É um dos alojamentos mais baratos de Banff. É caro para um hostel, mas é bem barato para Banff. Tudo o resto tinha preços proibitivos. Se o orçamento é uma preocupação, este é o sítio ideal. Havendo mais dinheiro, há muito mais opções! É só questão de procurar.
Banff é um dos locais que está na minha lista do pódio de áreas a visitar no meu País natal, os outros dois no topo são a Terra Nova e os seus fiordes a partir de St. John’s e Manitoulin Islands no norte de Georgian Bay. Como tenho dupla nacionalidade espero ter oportunidade de concretizar este sonho.
Claro que há mais, mas como já estive em Victoria e Vancouver, cujo canal entre o continente e a ilha é de uma grande beleza, as cataratas ficam perto da terra natal e já lá fui inúmeras vezes, One Thousand Islands no início de rio São Lourenço já passeei em cruzeiro, tal como o fiz no sul da Georgian Bay onde fiquei maravilhosamente impressionado pela estonteante beleza, além de conhecer as grandes cidades como Toronto, Ottawa, Montreal e Quebec City. Assim Banff esta nesse pódio das preferências e nessa altura espero aproveitar para conhecer Calgary.
Ainda visitei muito pouco do Canadá, mas tenho vontade de conhecer o país inteiro! Faltam-me todas essas grandes cidades, estive apenas em Victoria e Vancouver. Ir a Banff foi uma experiência incrível, os lagos que se encontram por ali são maravilhosos. Aconselho mesmo! Acho que Banff merece muito estar nesse pódio de preferências 😀 Espero que a visita esteja para breve!